A Palavra Final de Deus




Tullian Tchividjian




William Graham Tullian Tchividjian é o pastor da Igreja Presbiteriana Coral Ridge em Ft. Lauderdale, Florida. É professor visitante de Teologia no Reformed Theological Seminary e neto do conhecido pregador e evangelista Billy Graham. É formado em filosofia pela Universidade de Columbia e obteve seu M.Div pelo Reformed Theological Seminary. Tullian é autor de vários livros e contribui como um dos editors do jornal Leadership Journal. Ele é preletor em diversas conferência teológicas nos EUA e faz um programa de rádio, com meditações e pregações. É casado com Kim, com quem tem três filhos Gabe, Nate, e Genna.


Nós, cristãos, temos uma tendência notável de focalizar quase exclusivamente o fruto do problema. Fazemos isso como pais ao lidar com nossos filhos; os pastores, com os membros da igreja; os maridos, com sua mulher; e as mulheres, com seu marido. Fazemos isso com nós mesmos. Por outro lado, o evangelho sempre trata das raízes do problema. E a raiz do problema não é o mau comportamento. O mau comportamento é o fruto de algo mais profundo.
Harold Senkbeil identifica corretamente nosso verdadeiro inimigo: a morte. Em outras palavras, os pecados são o fruto de um problema mais profundo, um problema que somente Deus pode resolver. A morte é a raiz do problema.

"Isto parece bom", ela pensou consigo mesma. Aquele fruto lustroso – ele clamava por ser comido, por ser desfrutado. E que experiência ampliadora seria esse desfrute – o conhecimento do bem e do mal, o Poderoso havia dito. Como ele poderia querer menos do que o melhor para os seus?

"Meu marido e eu seremos como o próprio Deus?", ela pensou. "Ora, como isso pode ser tão mau?"

A serpente foi sensata: era muito melhor conhecer o bem e o mal do que conhecer apenas o bem.

"Tome, coma um pouco." Ela passou o fruto suculento para o seu marido.
"É muito bom. Aliás, Adão, você sabe o que Deus queria dizer com a palavra – eu acho que era – ‘morrer’?"

Todo comportamento pecaminoso – até nos cristãos – tem sua origem na morte que aconteceu no Éden. Tratar do comportamento sem lidar com a morte é perpetuar a morte. Os fariseus eram mestres nisso, e Jesus os chamou de "sepulcros caiados". Muitos de nós, cristãos, somos culpados de cometer esse mesmo erro. Tendemos a pensar no evangelho como o programa de Deus para tornar pessoas ruins em pessoas boas e não para tornar pessoas mortas em pessoas vivas. O fato é que Jesus veio primeiramente para realizar uma ressurreição da morte e não uma reforma moral – como sua própria e ressurreição demonstram.

A seguinte citação foi extraída do excelente artigo de Senkbeil publicado no livro Justified: Modern Reformation Essays on the Doctrine of Justification(Justificado: Ensaios Reformados Modernos Sobre a Doutrina da Justificação):

Muitas pessoas acham que o dilema humano é que nossas vidas estão fora de ajuste; não satisfazemos as expectativas de Deus. Portanto, a salvação se torna um questão de reorganizar nossas prioridades e ajustar nosso estilo de vida para corresponder com a vontade de Deus. Em sua forma mais grosseira, este erro leva as pessoas a pensarem que merecem sua própria salvação. Mais freqüentemente, no mundo evangélico contemporâneo, o erro tem um disfarce mais sutil: armado com perdão por meio de Jesus, as pessoas são instadas a praticar técnicas e princípios que Cristo ensinou para colocarem novamente seu estilo de vida em harmonia.

É verdade que vidas pecaminosas estão fora de ajuste. Todos nós necessitamos do poder santificador do Espírito. Mas isso vem somente depois que nosso verdadeiro problema é resolvido. Os pecados são apenas o sintoma; o nosso verdadeiro dilema é a morte.

Deus advertiu Adão e Eva de que o conhecimento do mal viria a um preço elevado: "No dia em que dela [da árvore do conhecimento do bem e do mal] comeres, certamente morrerás" (Gn 2.17). Nossos primeiros pais quiseram ser como Deus e se mostraram dispostos a pagar o preço. E ainda estamos pagando o preço: "O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23); "Em Adão, todos morrem" (1 Co 15.22); "Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados" (Ef 2.1).

O verdadeiro problema que enfrentamos é a morte. A morte física, com certeza. Mas, em última análise e mais horrivelmente, a morte espiritual – ser separado de Deus para sempre. E todos têm de morrer. Você pode morrer sozinho ou morrer em Jesus.

Em sua morte, Jesus Cristo absorveu a nossa morte e ressuscitou triunfantemente para remover todo o poder do sepulcro. Na promessa da ressurreição, a morte perde seu poder. Quando morremos com Jesus, nós vivemos realmente!

A santificação consiste da compreensão diária de que em Cristo morremos e de que em Cristo ressuscitamos. Mudança de vida acontece à medida que o coração assimila diariamente a morte e a vida. Reforma diária é o fruto de ressurreição diária. Entender isso de outra maneira (o que sempre fazemos por costume) significa perder o poder e o principal ensino do evangelho. Em seu livro God in the Dock (Deus no Banco dos Réus), C. S. Lewis deixa claro o argumento de que "você não pode conseguir as coisas secundárias por colocá-las em primeiro lugar; você consegue as coisas secundárias somente por colocar as coisas prioritárias em primeiro lugar". O comportamento (bom ou mau) é uma coisa secundária.

Em nossos dias, espera-se que os pregadores sejam especialistas em "renovação moral cristã". Espera-se que eles ofereçam listas de "faça isto", em vez de anunciarem: "Está consumado". Espera-se que eles façam alguma outra coisa "mais do que" expor aos olhos de suas congregações a obra consumada de Cristo, pregando uma absolvição total baseada tão-somente na justiça completa de Outro. Evidentemente, a ironia é que a renovação moral não acontece mesmo quando os pregadores seguem essa pressão. Focalizar-me no como estou fazendo mais do que naquilo que Cristo fez é narcisismo cristão (um oximoro, se já ouvi um oximoro) – o veneno da auto-absorção que destrói o poder do evangelho em nossa vida. Marinho Lutero comentou que "o pecado que está por trás de todos os nossos pecados é a mentira da serpente de que não podemos confiar no amor e na graça de Cristo e de que temos de tomar as questões em nossas próprias mãos".

Em outras palavras, a renovação moral é refocalizar nossos olhos, removendo-os de nós mesmos e fixando-os na obediência daquele Homem, na cruz daquele Homem, no sangue daquele Homem – na morte e na ressurreição daquele Homem!

"Em meu lugar, condenado ele foi e com seu sangue meu perdão selou – aleluia! Que Salvador!"

Aprender a amar diariamente esta troca gloriosa, descansar em sua completude e viver sob a sua bandeira é o que significa ser moralmente reformado!

Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright©2011 Tullian Tchividjian
Copyright©2011Editora Fiel
Traduzido do original em inglês: God’s Final Word – Extraído do Blog The Gospel Coalition.
http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=361