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Por que abrandar a necessidade de arrependimento prejudica os pobres
Mez McConnell23 de Agosto de 2016 - Evangelização


Precisamos dar duro em nossa explicação do arrependimento bíblico verdadeiro quando trabalhamos com os pobres (ou com qualquer pessoa). Sentir-se mal por ter feito algo errado e arrepender-se dos pecados são dois atos completamente diferentes que produzem dois frutos duradouros muito diferentes na vida da pessoa.

O pecado é algo sério para Deus e nos separa dele. O arrependimento significa dar as costas para aquele pecado. A dificuldade pastoral aparece justamente no fato de que o arrependimento pode parecer algo bem diferente quando lidamos com vidas destruídas e caóticas.

Um exemplo é o de Inocência, uma garota de treze anos de idade do norte do Brasil. Ela viveu nas ruas durante a maior parte do tempo de sua curta vida. Seus pais a abandonaram quando ela tinha cinco anos e desde os seis anos ela vendeu seu corpo para comprar comida e alimentar seu vício de cheirar cola. Quando a encontramos, sua vida era uma miséria. Um dos braços dela não tinha mais os movimentos, fruto de uma briga na rua, todos os seus dentes haviam caído e ela havia sido estuprada inúmeras vezes.

Certo dia, quando ela ouviu sobre a verdade transformadora de Deus, a respeito de sua posição pecaminosa perante ele, e as boas-novas acerca do que Cristo havia feito, ela quis se arrepender imediatamente. Oramos com ela e acreditamos que fez uma profissão genuína de fé.

Vários dias depois encontramos a Inocência semiconsciente na rua, com uma sacola de cola industrial aos seus pés (infelizmente essa cola é muito mais letal do que a heroína). Meu grupo brasileiro estava devastado e irado; o arrependimento dela parecia tão genuíno!

Colocamos a moça de pé. Ela tomou um banho em nosso centro, e conversamos com ela a respeito do compromisso que ela tinha feito com Cristo. “Pastor Mez”, disse ela, “eu amo Jesus. Tenho dado as costas para o meu pecado. Na noite passada eu rejeitei um cliente e agora tenho cheirado apenas seis sacolas de cola ao invés de dez”. Ela sorriu toda orgulhosa e eu me senti humilhado. Será que eu esperava que ela fosse o produto final no momento da conversão?

Os arrependimentos nos conjuntos habitacionais da Escócia não são muito diferentes, embora nem sempre tão extremos assim. O que dizer de um homem que chegou a Cristo, tem três filhos com duas mulheres diferentes e deseja abandonar seu passado pecaminoso e abusivo para ser um pai piedoso para seus filhos? O que o arrependimento significa para ele? De uma maneira ou de outra, não será algo simples. Para uma pessoa em situação complicada, o arrependimento envolve tomar decisões difíceis e lidar com as consequências de um estilo de vida egoísta e pecaminoso.

Sharon era uma mulher por volta de trinta anos com uma história terrível. Teve quatro filhos e todos foram tirados dela pelas autoridades locais. Cumpriu várias sentenças prisionais por pequenos furtos e entorpecentes. Era escandalosa e audaciosa, além de ser a líder de uma gangue de ladrões na comunidade onde vivia. Chegou a um centro de visitação onde eu era voluntário e me ouviu explicar o evangelho quando compartilhava o que Cristo fez em minha vida. Ela veio a mim cheia de lágrimas nos olhos e disse: “Eu quero Jesus na minha vida. Quero ser transformada como você foi”. Simpatizei com ela.

Olhei para ela e disse: “Isso vai lhe custar caro e você precisa saber disso. Eu tive de dar minhas costas para tudo que conhecia, incluindo meus amigos e até mesmo alguns familiares, para crescer verdadeiramente como cristão. O que você vê em mim hoje representa dez anos de um crescimento doloroso. Isso não acontece da noite para o dia. Jesus pede que avaliemos o preço antes de decidirmos segui-lo. Cristo não quer que nos enganemos achando que a vida com ele será mais fácil. Na realidade, provavelmente é mais difícil à medida que nossos amigos nos rejeitam e não compreendem nossas motivações para abraçar essa nova vida. Por que você não volta para casa, pensa sobre isso e volta amanhã? Se você acha que Deus está realmente lhe chamando ao arrependimento e a dar as costas para o seu pecado, me encontre aqui amanhã às 10h”. Nunca mais tive qualquer notícia dela.

Será que fiz a coisa certa? Creio que sim. Desde então fiz isso várias vezes. Ao trabalhar com pessoas vulneráveis, a tentação é empurrá-las para algum tipo de compromisso em seu estado emocional fragilizado. Isso é feito facilmente, e pessoas com históricos mais pobres podem ser tranquilamente manipuladas para seguir Cristo por uma série de razões. Mas o arrependimento genuíno é uma obra do Espírito de Deus, e prestamos um tremendo desserviço se não apresentarmos a essas pessoas o verdadeiro preço de se segui-lo.

Uma das minhas perguntas favoritas para viciados em drogas que chegam ao meu escritório e me perguntam se podem “ser salvos” é: “Do que você está preparado para abrir mão para seguir Jesus Cristo?”. Se a resposta for “tudo”, então eles não estão preparados e não compreendem a mensagem do evangelho. A resposta comum é: Mez, eu farei qualquer coisa”. Minha resposta é: “Qualquer coisa? Você tem certeza? Está certo. Me dê seu telefone para que eu retire seu chip e apague seus contatos do tráfico de drogas”. Noventa e nove por cento das vezes eles se levantam e vão embora. Se são incapazes de pagar aquele preço, não irão pagar o preço de seguir Cristo.



Direitos: Trecho do livro Igreja em Lugares Difíceis, futura publicação da Editora Fiel


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AutorMez McConnell

É pastor sênior da Niddrie Community Church, Edimburgo, Escócia. É fundador do 20schemes, um ministério voltado para...



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