Conforto diante da Morte

Cícero Duarte Silva : A Síndrome dos Miseráveis

Cristo morreu inutilmente. Sim ou não?

A Síndrome dos Miseráveis

Cícero Duarte Silva

Cristo morreu inutilmente. Sim ou não?
Como a frase condicional deixa perceber, o apóstolo Paulo era capaz de
imaginar ambas as possibilidades, conforme declara em 1Coríntios
15.17. Com esse brusco desafio, confronta os cristãos de ontem e de
hoje. Igualmente, de acordo com o texto citado, o não esvaziamento do
túmulo constitui o critério que define o que é realmente cristão ou
não. Uma pregação pode ser proferida nos mais límpidos tons ou em uma
solenidade impressionante, mas ela torna desnecessária a palavra da
cruz?

Em Corinto, alguns tinham se voltado contra Paulo e não estavam
retendo firmemente a palavra por ele pregada. Tinham, na verdade,
crido em vão e a fé que possuíam era inútil. Ainda que aceitassem a
pregação que afirmava que Cristo havia ressuscitado dos mortos (e
ainda estava vivo), diziam que não havia ressurreição dos mortos, isto
é, dos crentes mortos.

Certo dia, assisti a um programa de TV sobre auto-ajuda conduzido por
um apresentador de orientação religiosa publicamente espírita, que
tratava do tema “perdas emocionais”, particularmente as perdas ligadas
a entes queridos falecidos. Na ocasião, participava uma jovem senhora
que, tendo perdido a mãe, sentia-se desorientada com a ocorrência. O
apresentador lhe perguntou sobre sua crença a respeito da imortalidade
e ela, declarando-se cristã evangélica, discorreu sobre a ressurreição
dos mortos na segunda vinda de Cristo, e por aí foi. Aumentou-nos a
curiosidade o fato de ela, após discorrer sobre sua fé, ter aceitado
participar do programa. Mas, enfim! Foi quando o apresentador,
fulminantemente, perguntou: “A tua fé sobre isso te consola?”. Ao que
ela respondeu com um constrangido “Não”.

Parafraseando o refrão de uma canção conhecida do ministro da Cultura:
“Corinto é aqui... e agora!”.

A essa parcela da igreja de Corinto que se reproduz hoje é bom que se
diga que a ressurreição de Cristo e também a nossa ressurreição são
partes de um mesmo e único plano de Deus. Jesus disse: “Porque eu
vivo, e vós vivereis” (Jo 14.19). Jesus também falou para Marta, irmã
de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá; e todo aquele que vive [que ressuscitou depois
de ter morrido] e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11.25,26). “A
ressurreição de Cristo é o amém a todas as suas promessas” (John
Boys).

Se concluirmos que não há ressurreição dos mortos, então Jesus mentiu
e não ressuscitou dos mortos. Assim, toda a pregação do apóstolo Paulo
foi inútil e sem sentido. Ele e os demais apóstolos foram falsas
testemunhas da ressurreição e da própria natureza de Deus e, nesse
caso, estavam, na verdade, dando testemunho contra Deus.

Nossa fé, nossa salvação, depende do fato objetivo e literal de que
Jesus ressuscitou dos mortos. Se Jesus não ressuscitou, então a cruz é
vã, sua morte e o derramamento de seu sangue não expiaram nossos
pecados e continuamos seguindo como pecadores culpados, sentenciados
eternamente. Além disso, os que morreram com a fé posta em Jesus, já
estariam perdidos para sempre, sem esperança.

Podemos, também, aplicar o inverso e este sim é verdadeiro e bíblico.
Aqueles que negam que Jesus ressuscitou, literal e objetivamente, dos
mortos, estão negando a verdade fundamental do evangelho. Transformam
a Bíblia, Jesus, os apóstolos e o próprio Deus em falsas testemunhas.
Mas eles próprios são falsas testemunhas e não têm o direito de serem
chamados cristãos, pois “o túmulo vazio de Cristo foi o berço da
Igreja” (W. Robertson Nicoll).

De qualquer modo, estejamos alerta para que não haja em nossos lábios
uma canção que diga “se estou sonhando, deixe-me sonhar”, evocando a
idéia de que a “vida cristã é a melhor e mais feliz vida, então mesmo
que não seja verdade, é bom ser cristão”, porque não cabe ao cristão
sincero pensar assim.

Como o apóstolo disse, seria coisa miserável crer em algo que não é
verdade e todo aquele que assim o faz deve ser lamentado.
Cícero Duarte Silva é doutor em Apologética

Notas:
1 Referência à famosa canção Aqui e agora, de Gilberto Gil, cujos
versos trazem: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora”.

Fonte: http://www.batistas-es.org.br/artigos/artigos/47-apologia/97-a-sindrome-dos-miseraveis.html

http://www.projetoamor.com/news.php?readmore=3456