Pr. Walter Santos Baptista
"Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58).
1Coríntios 15 é um extraordinário, inspirativo e abençoador capítulo do Novo Testamento. Ele se encerra com uma exortação que fala de vitória: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58).
Que há antes desse "portanto?" Paulo fala de corpos transformados na ressurreição geral. Porém, que outro ensino há antes desta palavra apostólica sobre a ressurreição? Agora, é preciso ir ao sermão profético de Jesus em Mateus 24 e 25, o, assim chamado, "Pequeno Apocalipse". Nele encontraremos o Senhor falando sobre o princípio das dores, os sinais de Seu retorno, a Grande Tribulação, Sua gloriosa Volta (a Parousia), o Arrebatamento e o Juízo Final. Tudo isso culmina com o "Portanto..." de Paulo, que é um estímulo e encorajamento à fidelidade e paciência no aguardo da Volta de Jesus.
UM ACONTECIMENTO AGENDADO
A Segunda Vinda de Cristo é um acontecimento programado conforme Atos 1.11 (cf. Fp 3.20). E todo o Novo Testamento nos ensina que Jesus Cristo veio para inaugurar Seu reino (Mc 1.15), e virá pela vez segunda para consumá-lo (Hb 9.28).
Na verdade, a fé da Igreja dos apóstolos é dominada pela expectativa desse retorno de Jesus Cristo. Tiago 5.8 é porção claríssima da Palavra ao dizer, "Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima" (cf. 1Co 4.5; Fp 4.5; 1Ts 5.2; Tt 2.11-13; 1Pe 5.4; 2Pe 3.10; 1Jo 2.28; 3.2; Ap 1.7; 3.11; 22.20). Se esta expectativa não existir, alguma coisa está errada.
Mas a expressão "últimos dias" não é compreendida do mesmo modo por todos:
· Há quem entenda que os "últimos dias" começaram com o estabelecimento do Estado de Israel em 1948.
· Há quem compreenda que são os anos finais de 2000 e começo de 2001.
· Há quem ache que não é uma coisa nem outra, mas que os sinais estão aí, e que os "últimos dias" estão se aproximando.
Eu prefiro ficar com a Bíblia: desde que Jesus, após a ressurreição, voltou aos céus, nós estamos nos "últimos dias". Afinal, na Festa de Pentecostes, deu-se o derramamento do Espírito Santo sobre a nascente Igreja, e isso fora predito pelos antigos profetas como Joel 2.28 ("E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões") e Ezequiel 36. 25-27 (cf. Is 44.3; 32.15). E Pedro, apóstolo, o afirmou no seu discurso/sermão registrado em Atos 2.16-18.
A própria primeira vinda de Cristo, incluindo Seu nascimento, ministério, morte, ressurreição e exaltação são, segundo Pedro, "o fim dos tempos" (1Pe 1.20). E Paulo o diz com absoluta certeza e pura clareza: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos". Igualmente o escritor de Hebreus não deixa por menos: "... a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez o mundo" (1.2; cf. 1Jo 2.18).
E por que marcar a data da Segunda Vinda? Especulação. Pura especulação. Cada fim de milênio traz muita especulação. Isso aconteceu em 996, 997, 998, 999 quando o ano 1000 era aguardado. Isso aconteceu no final do século passado, em 1996, 1997, 1998, 1999 já que o ano 2000 estava se aproximando.
Guilherme Miller, nos Estados Unidos, marcou o dia 21 de março de 1843 como o da Segunda Vinda de Cristo. Não veio. Remarcou para 22 de outubro do ano seguinte. Não veio.
Claus Epp Jr, na Alemanha, marcou o mesmo evento para 1889. Nada aconteceu.
O Rev. Scofield, autor das notas da Bíblia Scofield, marcou a batalha do Armagedon nos dias da I Guerra Mundial. Sem novidades.
Leonard Sale-Harrison marcou para 1940 ou 1941. Nada. E outros tantos.
Mas que Jesus vem, vem! Pedro diz que esse é um assunto para o qual devemos dar atenção e buscar compreender (2Pe 1.19), pois os fins dos tempos , os "últimos dias", chegaram: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (1Co 10.11). Essa é a razão porque Jesus nos advertiu acerca de acontecimentos e coisas outras que viriam para perturbar.
Vamos a Mateus 24, onde estão os sinais do retorno de Cristo. Ele falou em sedução, em guerras e boatos acerca de guerras, em terremotos, fomes, em perseguições e em prodígios.
Realmente, os sinais sempre existiram (não são coisa de hoje como se procura enfatizar). Eles caracterizam o período entre a Primeira e a Segunda Vindas, e cada década destes últimos dois mil anos tem testemunhado isso. Jesus nos informa sobre os sinais, não para marquemos os tempos, mas para sermos vigilantes. Jesus nos informa sobre os sinais não para que os consideremos anormais ou espetaculares, pois sinais espetaculares e anormais são os realizados por Satanás (cf. Ap 13.13,14; 2Ts 2.7-9).
Deus trabalha na calma, no silêncio, como fermento na massa do pão.
TRANSFORMADOS E GLORIFICADOS
Continuando a examinar o capítulo 24 do Evangelho de Mateus, a partir do verso 29, a palavra de Jesus alude ao Seu retorno, a Parousia.
Um ricaço inglês, por nome Ernest Digwood, falecido em 1976, deixou uma herança de 26.107 libras rendendo num banco. O destino desta importância é se até 2056, Jesus não retornar, será entregue ao governo britânico. Se, pelo contrário, Ele regressar para reinar na Terra, os procuradores públicos confirmarão Sua identidade e Lhe entregarão o dinheiro para ser aplicado no Seu reino. "Confirmar a identidade"? Vão pedir o R.G.? O C.I.C.? Certidão de Nascimento? Que coisa grotesca?! Quanto ridículo?!
Quando Jesus regressar, não se precisa de comprovação de Sua identidade, pois "todo o olho O verá", afirma Apocalipse 1.7), e o diz Mateus 24.30.
Sua vinda será pessoal. Alguém duvida? A Escritura o diz claramente, "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus..." (1Ts 4.16 NVI; cf. At 1.11; 3.19-21; Cl 3.4).
Seu retorno será repentino. É ler Mateus 24.27: "Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem" (cf. 1Ts 5.2).
Há de ser visível. As Testemunhas de Jeová ensinam que Jesus voltou em 1914 de modo invisível. No entanto, "vede, ele vem com as nuvens e todo o olho o verá, até mesmo os que o trespassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém" (Ap 1.7; 1Ts 4.16).
Será triunfante! Gloriosa! É verdade; a Primeira Vinda foi humilhada, pois Jesus nem teve onde nascer: aconteceu numa estrebaria; bercinho, nem falar: foi o cocho dos animais; durante Seu ministério, não tinha onde reclinar a cabeça; a cruz não era dEle, porém minha e sua; e, mesmo o túmulo foi emprestado. (cf. Is 53.2,3; Fp 2.7,8).
A Segunda Vinda será gloriosa nos termos de 1Tessalonicenses 1.7, 10: "... e a vós, que sois atribulados, alivio conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, ... quando vier para ser glorificado nos seus santos, e ser admirado em todos os que creram, naquele dia" (cf. Cl 3.4; 1Ts 4.16). Voltará acompanhado pelos Seus anjos, e pelos Seus fiéis (1Ts 4.14). Glorioso cortejo!
Dois fatos maravilhosos para os quais nossas palavras são inadequadas acontecerão: a Ressurreição dos Corpos e o Arrebatamento da Igreja. A ressurreição significa esperança, pura esperança. Teócrito, poeta grego (300-250? a.C.) afirmou que "há esperança para os que estão vivos, porém, para os que morreram, não há qualquer esperança". Ésquilo, também grego (525-426 a.C.) contribuiu para essa descrença dizendo que "uma vez que o homem morra, não há ressurreição".
Mas a Bíblia a afirma. Diz que crentes e descrentes, fiéis e incrédulos ressuscitarão ao mesmo tempo: "Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que fizerem o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação" (Jo 5.28,29; cf. Dn 12.2). E 1Coríntios 15.21-23 apresenta a ordem da aguardada ressurreição: primeiro, Cristo (que já ressuscitou); depois, os de Cristo (cf. 1Ts 4.16).
E o corpo da ressurreição está descrito em 1Coríntios 15.50-54. Corpos modificados, transformados, adequados às novas situações que nos esperam (cf. 1Co 15.51; Fp 3.20,21). Não mais seremos criaturas de carne e ossos, sangue e pele, mas teremos corpo espiritual semelhante ao de Jesus (1Jo 3.2)!
O ARREBATAMENTO
Nesse ponto, dar-se-á o Arrebatamento da Igreja. Jesus, Paulo e João falam desse evento com diferentes expressões :
· Paulo diz, "seremos arrebatados" (1Ts 4.17);
· Ou, "seremos transformados" (1Co 15.52);
· João registra no Apocalipse como "subida" (cf. 11.12);
· Jesus usa a frase "... [seus anjos] lhe ajuntarão os escolhidos" (Mt 24.31).
Haverá uma tremenda tribulação e angústia antes do Arrebatamento (cf. Mt 24.15-28), quando os Seus escolhidos (linguagem do próprio Jesus) serão protegidos, mas a experimentarão (Ap 7.1ss, 13, 14). E, então, todos os salvos mortos serão ressuscitados, e todos os salvos vivos serão transformados e glorificados. Os dois grupos serão elevados ao ar para um encontro com Jesus. A propósito, era costume nas cidades antigas, as pessoas de uma cidade sairem para encontrar fora dos muros ou fora da cidade, o visitante ilustre, formando um cortejo com ele para voltar à cidade. Em certo sentido, fazemos isso quando vamos ao aeroporto ou rodoviária aguardar alguém nosso (cf. Mt 25.6ss).
Há prévias do Arrebatamento na Bíblia: Enoque cf. Gn 5.21-24; Hb 11.5), Elias (2Ts 2.8-11).
Há quem vá, e há quem fique! O joio é queimado, mas o trigo é recolhido, diz a parábola (Mt 13.24-30); os peixes que não servem são jogados fora, os bons são separados (Mt 13.47, 48). Os justos e os maus têm destino separado (cf. Mt 13.49, 50). E você, vai ou fica? Muito membro de igreja não vai ser arrebatado porque é só isso mesmo: membro de igreja. É batizado, é verdade, mas não é nascido de novo. Muito filho de crente fica; muito marido de mulher salva fica. E você? Não deixe de observar a palavra de Jesus: "será levado um e deixado o outro" (Mt 24.40, 41).
O JUÍZO FINAL
Pense direitinho: o julgamento de Deus já começou, pois "Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18; 5.24). Mas na Segunda Vinda, o juízo vai esclarecer o que está oculto (1Co 4.5; Mt 10.26).
Quem será julgado? Nações, anjos caídos (1Co6.2,3; 2Pe 2.4; Jd 6), os seres humanos Mt 25.32; Rm 2.5,6; 3.6;Ap 20.12,13). Agora, diante do Juiz, já não há reis e súditos, políticos e seus eleitores, patrões e empregados: só salvos e perdidos, a fé e a incredulidade (aliás, nesse dia acaba o ateísmo). No Juízo, palavra de alegria ("Vinde, benditos...", Mt 25.34), e palavra de terror ("Apartai-vos de mim, malditos...", Mt 25.41). A palavra de Deus ensina que nosso destino já é conhecido por Ele: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz;eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.27,28) e "Pois nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele" (Ef 1.4). Aí vale a lei espiritual da Perseverança dos Santos!
Chegamos, então, ao "Portanto..." de 1Coríntios 15.58. Que fazer de agora até a Parousia, a Segunda Vinda e o Arrebatamento da Igreja?
· Levar a vida normalmente, porém vigilantes (Mt 25.13);
· "Aguardando a bem-aventurada esperança" (Tt 2.13);
· Consolando ("exortando uns aos outros", 1Tessalonicenses 4.18);
· Alegres (1Pe 4.12,13);
· Em intensa consagração (1Pe 4.7-11).
Quer dizer, agora a teologia se transforma em desafio, o pensamento teológico se torna práxis, ação. Paulo ensina, "Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão", ou seja, "Mantei-vos firmes na fé e no serviço de Deus porque essa não é uma luta vazia".
Estamos falando de vitória! Vitória plena! Plena vitória! E a glória das glórias, a vitória das vitórias é, como diz Paulo, que "estaremos para sempre com o Senhor"! (1Ts 4.17b).
Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA
E-Mail: wsbaptista@click21.com.br
http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/escat005.htm