Igreja: uma família para as famílias

Pr. Marcos Amazonas:
Igreja: uma família para as famílias
1 Samuel 22.1-2
Este texto na minha perspectiva é um dos textos mais extraordinários para reflectir sobre igreja. Sei que aqueles que afirmam que a igreja é neotestamentária discordarão, mas como creio que a Igreja é bíblica e acima de tudo, vem antes da fundação do mundo (Ef 1.4), posso utilizar o texto sem problema.
O nosso texto mostra-nos David em fuga. Ele está fugindo do seu sogro que por ciúme deseja matá-lo. Para poder viver David foi esconder-se na caverna de Adulão. É nesta caverna que David vai encontrar o amparo e a solidariedade dos seus. Gostamos muito de David, mas nunca pensamos sobre a sua família. É interessante ver que, quando Samuel foi ungir um novo rei sobre Israel, ele dirigiu-se até a casa de Jessé. Samuel chamou Jessé e seus filhos para participarem daquele momento. Que momento histórico e marcante na vida de uma pessoa. Estão ali e Samuel vai olhando para cada um dos filhos de Jessé, mas não é nenhum daqueles que deveria ser ungido rei. Neste momento Samuel indaga: «Estes são todos os filhos que você têm?» (1 Sm 16.11). Jessé responde que há um outro filho, que ficou no campo a cuidar das ovelhas.
Que família! Uma refeição com o profeta e sacerdote e o rapaz não tem o privilégio de participar. Fica no campo a cuidar das ovelhas. David era posto de parte. Mas Samuel mandou chamá-lo e quando o jovem apareceu o Senhor mandou ungi-lo como aquele que deveria ser o novo rei de Israel (1 Sm 16.1-13).
É na caverna de Adulão que David descobre a solidariedade da sua família. É ali que eles lhes são solidários. A igreja também deve ser como a caverna de Adulão o lugar onde brota a solidariedade e compreensão.
Olhemos para o texto com cuidado e vejamos o que ele nos apresenta para que possamos ser uma família para as famílias.
A igreja é família para as famílias quando recebe todos os aflitos e desajustados com amor. Isto é extraordinário! A igreja precisa ser local de acolhimento para os aflitos, para os desajustados. Necessita ser família para essa gente e para as famílias que estão a viver estes dilemas.
David, o pastor fugiu para a caverna e notem que o texto diz que seus irmãos e a família de seu pai foram ter com ele. O pastor de ovelhas agora iria pastorear gente. E quando os outros que enfrentam problemas vêem que aqueles encontraram guarida e acolhimento correram para lá. David recebeu aquela gente com amor. Ele as tratou bem e amparou-as porque sabia o que era viver fugindo.
A igreja será família para as famílias quando todos os amargurados, desajustados encontrarem nela acolhimento, amor. Era este tipo de gente que ia ter com Jesus. Foi para este tipo de gente que o Senhor Jesus veio ao mundo (Mc 2.17; Lc 5.31). A igreja existe para os doentes, mas quando eles aqui chegam são transformados pelo poder restaurador do Senhor. A igreja torna-se família para as famílias e para os solitários porque ela recebe todos com amor e permite que jorre a graça do Senhor (1 Co 6.9-11).
É fantástico ver que foram ter com David todos os endividados. Todos os perseguidos e eles foram acolhidos, recebidos com alegria e amor. Quem estava com o seu nome no Banco Central, sabia que podia não ser recebido em qualquer outra parte, mas ali na caverna, as pessoas eram consideradas pelo que eram e não pelo que tinham. A igreja precisa ser assim, um lugar de acolhimento. “A igreja é uma família que se preocupa com as pessoas para ajudá-las e não uma empresa que procura pessoas para extrair algo delas.”[1] A igreja existe para acolher, abrigar e amar a todos os que a ela se dirigem. A igreja existe para ser família para as famílias.
A igreja é família para as famílias quando ela destrói a dor da solidão. Olhemos para o nosso texto. David estava só. Estava a fugir do sogro. Foi para a caverna e lá a sua solidão deixa de existir. Na caverna ele encontra companhia, solidariedade e um ombro amigo. Há pessoas que vivem em famílias, mas estão solitários. Há famílias que vivem juntas, mas estão desagregadas. Família deixou de ser unidade, «hoje em dia, uma família não é mais uma unidade. Tornou-se uma coleção de unidades, vivendo no mesmo endereço, mas onde todos chegam e vão embora, comem e dormem em horários separados.»[2] Vivemos num mundo onde a solidão está matando milhares de pessoas. A igreja deve ser família para os solitários. Ela deve ser família para as famílias que estão isoladas.
Na igreja encontramos a verdadeira família. É interessante ver que na igreja nos tratamos por irmãos e irmãs. Tratamo-nos assim por termos a consciência de que fomos feitos filhos de Deus e que o sangue de Jesus nos une. Isto só é possível por causa da cruz. É fantástico ver como o apóstolo João mostra-nos esta realidade (Jo 19.26-27), João e Maria cada um com sua história de vida e com a sua família, mas o Senhor na cruz traça responsabilidades mútuas para eles. O filho do trovão necessitava de alguém como Maria para cuidar dele e ensinar-lhe a ser manso e Maria, aquela mulher que guardava as coisas no coração, aquela mulher meiga necessitava de alguém mais forte para ampará-la.
A igreja é família para as famílias quando rompe com o ciclo da tristeza da solidão e promove companhia. A linguagem dos salmos é repleta desta realidade. O povo está junto. Vive em harmonia. O salmo 84 diz que até o pardal encontra casa e a andorinha ninho para si, para poder abrigar os seus filhotes (3). Os que amam o Senhor vivem rodeados de companhia. Estão em família e livres da solidão.
A igreja é família para as famílias porque ela faz com que o solitário viva em família (Sl 68.3). A igreja é lugar de acolhimento. A igreja deve ser um lugar aprazível, onde as pessoas tenham prazer de estar. A igreja é família de acolhimento. Portanto, devemos compreender que: “Em um mundo no qual a competitividade e a guerra económica nos deixam solitários e vulneráveis, deveria ser com sentimento de alívio que nos voltaríamos para as instituições religiosas como um porto seguro, um lugar onde ninguém está tentando levar vantagem sobre ninguém, porque todos sabemos que permanecemos juntos, como filhos de Deus.”[3]
A igreja é família para as famílias porque quebra o ciclo trágico da solidão.
A igreja é família para as famílias quando todos são tratados sem preconceito. Olhemos para o nosso texto mais uma vez. O texto afirma que A caverna onde estava David acolheu sua família, todos os endividados, os que estavam em dificuldades e os descontentes. Os tristes foram para lá em busca de esperança e alegria. Eles foram recebidos sem preconceitos. Não lhes puseram rótulos na cara.
A igreja é família para as famílias quando recebe as pessoas do jeito que elas são. Quando as ama de modo incondicional. É bom vermos o convite que o Senhor Jesus faz as pessoas. O modo como ele chama as pessoas é interessantíssimo, pois o Senhor não diz que as pessoas devem mudar, precisam deixar isto ou aquilo. O Senhor diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mt 11.28-30). O Senhor chama a todos e diz que a única coisa que devem fazer depois de irem até Ele é tomar seu jugo e aprender sobre Ele e quem aprende sobre Ele encontra descanso. Ele não pergunta o que fomos, o que fizemos. Ele não nos exclui. Ele recebe-nos a todos. Ele não nos trata com preconceitos.
Esta realidade está vincada em todo o Novo Testamento. Contudo, é Tiago irmão do Senhor quem declara: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.” (Tg 2.1) Na igreja todos são tratados com dignidade. Na igreja não há acepção de pessoas.
A igreja é família para as famílias quando acolhe e trata todos de igual modo. A igreja é família para as famílias quando dignifica o ser humano. A igreja é família para as famílias quando «a casa de devoção é o único lugar onde as barreiras caem e todos ficamos iguais perante Deus. Promete ser o único lugar na sociedade onde meu ganho não precisa significar a sua perda. O homem que reza ao seu lado na igreja pode ser um vendedor de seguros ou gerente de negócios de um concorrente, mas, na hora que passam juntos, ele não está tentando lhe vender algo, nem passar sua frente.»[4] Estamos juntos para celebrar com alegria ao Senhor. Estamos juntos como família para mostrar ao mundo como é bom e suave vivermos em união (Sl 133). É abençoador.
A igreja é família para as famílias quando todos são tratados sem preconceito.
Conclusão
Igreja uma família para as famílias.
Igreja é comunidade. É lugar de acolhimento. É lugar de companhia e aceitação.
A igreja só será uma família para as famílias se agirmos da seguinte maneira:
1. Quando todos forem recebidos com amor
2. Quando todos encontrarem companhia e romperem com o ciclo da solidão
3. Quando todos forem tratados de igual maneira.
Que Deus nos ajude a ser família para as famílias!




[1] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. À Igreja com carinho; elementos para a renovação da vida e missão da Igreja, -
Missão Editora, Belo Horizonte, 1994
[2] KUSHNER, Harold. Quem precisa de Deus – Imago Editora, Rio de Janeiro, 1991
[3] Ibid.
[4] Op.Cit

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