Pr. Walter Santos Baptista
"Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.
Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é em nós aperfeiçoado. E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão." (1Jo 4.7,10-12,21)
Aconteceu no tempo da Segunda Guerra Mundial quando, em um dos hospitais de guerra, uma missionária-enfermeira estava cuidando de um soldado ferido, e realizava um curativo numa ferida muito feia. Começou a assepsia, quando alguém que estava no leito ao lado disse: "Eu não faria isso nem por um milhão de dólares!" Respondeu a jovem: "Nem eu!..." Nessa simples expressão está toda a grandeza desses profissionais de saúde.
Somente o amor motiva essa atividade. E, a respeito do amor, filósofos, pensadores, poetas, teólogos, muita gente tem se pronunciado. Alguém dizia, fazendo uma pergunta: "Que é o amor?" E a resposta por ele mesmo dada foi:
"É silêncio - quando suas palavras podem ferir.
É paciência - quando o outro é irritante.
É ficar surdo - quando surge um escândalo.
É sensibilidade - quando os outros estão sofrendo.
É prontidão - quando o dever chama.
É coragem - quando sobrevem a desventura."
Outra pessoa sobre esse mesmo tema disse: "É natural amar aqueles que nos amam, mas é sobrenatural amar aqueles que nos odeiam". Por isso eu creio no amor!
É, realmente, agir em nome do amor estender a todas as pessoas o que achamos ser natural com algumas.
DIMENSÕES DO AMOR
Amor, não é simplesmente essa palavra romântica que encontramos pichada nos muros da vida: FULANO AMA FULANA. O evangelho de Jesus Cristo apresenta, aliás, uma tríplice exigência do amor que o cristão precisa exercitar. Diz o evangelho que existe o amor ao irmão de fé: "Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não ama a seu irmão" (1Jo 3.10). Existe o amor do próximo, e sobre isso temos uma palavra expressa de Jesus Cristo: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses" (Mc 12.30,31). Diria ainda, que há outra dimensão também mencionada por Jesus Cristo, e que vai muito além do que pede o nosso coração, e encontra-se nesta Palavra do Mestre: "Eu , porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem." (Mt 5.44). Então, agir dentro dessa perspectiva é fazê-lo motivado pelo Espírito Santo de Deus, é agir motivado pelo fruto do Espírito, e reconhecê-lo basicamente como sendo o amor (Gl 5.22,23). Outra contribuição anônima diz que:
"O fruto do Espírito é amor.
Alegria é amor em regozijo.
Paz é amor em repouso.
Paciência é amor em provação.
Benignidade é amor em sociedade.
Bondade é amor em ação.
Fé é amor em perseverança.
Mansidão é amor na escola.
Domínio-próprio é amor em disciplina"
Quando Jesus desejou ilustrar esse assunto, contou uma história.
AMOR AO PRÓXIMO
Está em Lucas 10.3-35 e é a história de um homem a quem se costuma chamar "Bom Samaritano", embora a Bíblia o chame apenas de "Samaritano". O fato é que nossa sociedade está tão acostumada com a injustiça, que, quando alguém faz o que todos deveriam fazer, é chamado de "bom".
A primeira personagem da história é uma viajante (v.30). Esse viajante tinha um problema. Vamos pensar no seguinte: aqui está uma estrada, na qual ninguém andava sozinho; quando as pessoas caminhavam por estradas como essa da antiga Palestina, faziam-no em caravanas, pois era uma imprudência aventurar-se a andar sozinho. Jesus colocou na história um homem descuidado, que resolvera ir de um lugar para outro sozinho.
Ele foi atacado por salteadores: são as próximas personagens (v.30). Estes malfeitores o deixaram muito machucado e meio morto.
Passa depois outra personagem: um sacerdote (v.31), que colocara os valores rituais e cerimoniais acima do amor. O viajante descuidado tinha sido atacado, mas o problema do sacerdote foi ver o homem ferido na estrada, e não ter se importado com ele, porque não cuidava de outros valores a não ser os cerimoniais. Não quis tocar no homem caído, e, aliás, nem se aproximou. Passou de longe porque havia uma norma no sacerdócio que declarava impuro o sacerdote que tocasse um morto, de modo que, durante uma semana, não podia render o turno. Ele ficou temeroso de perder a oportunidade de rodízio no templo (cf. Nm 19.11).
Diz a parábola que havia outra personagem: um levita que até chegou perto do homem (v.32), mas tinha um lema: "Primeiro a minha segurança. Esse homem pode ser um malfeitor, e talvez esteja se fazendo de morto, e me atacar". E fora embora.
E agora a outra personagem que se aproximou do ferido: o samaritano (v.33).
Mas Jesus fez uma pergunta porque já sabia que todos esperavam que o samaritano fosse o vilão da história. Samaritanos não se davam bem com os judeus, e Jesus contou a história de um homem que era judeu, como também o sacerdote e o levita. O samaritano não era judeu, e havia essa inimizade entre as duas raças-irmãs. O que aconteceu é que, quando todos esperavam que o samaritano fosse o bandido da história, Jesus disse que pelo contrário era o homem que tinha boas coisas a serem ditas a seu respeito.
O samaritano viu o problema do homem, passou azeite nas feridas e machucões do homem, colocou-o na sua montaria e seguiu com ele. Adiante, encontrou uma pousada, tendo dito ao estalajadeiro que tomasse conta dele, pois pagaria a despesa no retorno (v.35).
Primeira coisa boa: era homem de bom coração; segunda, era homem de crédito. Outra coisa admirável: tinha uma notável capacidade de ajudar. Grande disposição em ser útil.
QUEM É O NOSSO PRÓXIMO?
Essa história nos fala a respeito de amor. E Jesus nos dá um ensino a esse respeito porque para o judeu, o próximo era o judeu. Aliás, no ensino de alguns rabinos era até proibido ajudar a uma gentia que estivesse dando à luz, porque isso significa ajudar a colocar no mundo mais um gentio! É triste, mas era a verdade, e, no entanto, Jesus Cristo mostrou que para nós o nosso próximo é o necessitado.
Quem é o nosso próximo? Não é o que está junto de nós, nem, exatamente, o vizinho. É o necessitado, é aquele a quem você foi com tanto carinho e passou a mão pela cabeça, pois talvez aquela pessoa só precisasse do seu sorriso. Esse é o seu próximo! Então, Jesus fez isso mesmo.
Aqui está outra situação em que a doença está implícita: Jesus chegou num lugar chamado tanque de Betesda (Jo 5.1-9). Ali, encontrou um homem necessitado. Havia uma tradição que dizia que em certos momentos um anjo vinha e mexia nas águas do tanque. Quem conseguisse entrar naquele instante saía curado. Estudiosos disseram que seriam águas vulcânicas, e em determinados momento, dava-se um movimento das águas, e gases e minerais eram agitados, favorecendo o processo de tratamento. Jesus chegou e encontrou um homem que ali estava há trinta e oito anos querendo entrar. Ele era coxo, e todas as vezes quando queria se aproximar, outro pulava dentro do tanque. Jesus teve compaixão, e viu a esperança no coração daquele homem. Perguntou-lhe queria ser curado. Era só o que o homem queria, mas Jesus queria ouvir dos seus lábios. E o Mestre disse: "Pode ir embora, você ficou bom" (v.8). Quando o homem olhou, estava bom, perfeitamente curado. Aí se aplicam muito bem as palavras de 1 João 3.18: "Filhinhos, não amemos de Palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade". Para Jesus o próximo é aquele que sofre, o que tem necessidade.
Outro ensino desta história é que para amar é preciso ser sensível! Sensibilidade para dar ajudas práticas, e não somente sentir pena; sensibilidade para ajudar os outros mesmos que a culpa seja deles. Portanto, não podemos confundir o próximo com o nosso amigo. Meu amigo é quem eu escolhi para dar a minha simpatia e amizade, meu próximo é aquele a quem não escolhi, mas foi a pessoa que Deus me deu para ser objeto do meu amor, é o necessitado! Por isso eu creio no amor!
Em Marcos 12.29-31, Jesus combina a exigência do amor de Deus (Dt 6.4,5) com a exigência do amor ao próximo (Lv 19.18), esse ser que eu não escolhi mas o Criador colocou na vida vida. O crente em Jesus Cristo deve amar a Deus com a totalidade do seu ser (v. 30). Jesus disse isso mesmo: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento" (Mt 22.37).
Quanto ao amor ao próximo, depende da atitude que a pessoa tem para consigo mesma. Se você não tiver um conceito correto de valor de alguém como ser humano, é impossível ter uma atitude correta em relação ao seu semelhante. Isso quer dizer que não há lugar para a arrogância, para o desprezo aos outros; não há lugar para preconceito, se você trabalha na área de saúde, por exemplo, não pode escolher o paciente que deseja atender. Não; não há lugar para preconceito porque são todas essas coisas basicamente expressões de insegurança e de auto-estima muito baixa.
E o teste de que amamos a Deus é: "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu" (1Jo 4.20).
Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA
E-Mail: wsbaptista@terra.com.br