Os Dez Mandamentos

CREIO NOS MANDAMENTOS
Pr. Walter Santos Baptista

Texto Básico: Êxodo 20.1-17

Creio nos mandamentos da Lei de Deus porque o moral e o espiritual têm sua fonte e valor eterno no Criador. Creio porque desconhecê-los significa uma perda na compreensão do que é a liberdade humana, do que significa a liberdade do espírito, e como essa liberdade deve ser mantida. Por esse motivo, os Dez Mandamentos (ou Decálogo) devem ser seriamente levados em consideração. Estudá-los sob o prisma do Novo Testamento e dos questionamentos de nossa época, poderá servir-nos de diretriz na vida pessoal e na da sociedade em que estamos inseridos. Vive-los significa firmeza de posição e de ética num mundo atacado pela descrença, desonestidade, imoralidade e irresponsabilidade.

UM PROGRAMA DE VIDA

Vejo nos Dez Mandamentos um programa de vida. A propósito, há outros códigos legais no Antigo Testamento: o Código da Aliança em Êxodo 20.22-23.33; o Pacto de Êxodo 34.10-28; o Código de Santidade (Lv 17-26) com o conceito de "Sede-santos-porque-Eu-sou-santo" permeando cada proibição e recomendação, e pontuando o senso de separação, exclusividade, reserva especial que deve marcar o povo de Deus; o Código Sacerdotal (Lv 1-16) regulando sacrifícios, o sacerdócio, a pureza e a beleza ritual e litúrgica; o Dodecálogo de Siquém em Deuteronômio 27.15-26).

Na verdade, as leis do Antigo Testamento estão agrupadas em três blocos: leis casuísticas, apodíticas e cerimoniais. O primeiro tipo lida com casos: "faça", "não faça"; se cometer um erro, há uma penalidade fixada. É a lei civil. Um tremendo exemplo está em Levítico 20.9: "Qualquer que amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente será morto" numa preservação do mandamento que diz "Honra a teu pai e a tua mãe..."

A lei apodítica lida com as relações espirituais. É lei sem exceções da qual um claro exemplo são os Dez Mandamentos como um corpo.

A lei ritual normatiza os sacrifícios e o culto, seus aspectos e implicações.

O Decálogo (Ex 20.1-17; Dt 5.6-21), entanto, é a fonte autêntica da Lei, e fonte de inspiração dos profetas, por isso que são preceitos e ordens em tom pessoal, muito individual, mesmo, dos quais quatro regulam as relações com Deus, e seis, as relações com o próximo.

Os mandamentos têm o propósito de alertar as pessoas de que precisam de Deus, bem como guia-las para uma vida responsável na sociedade. Existem para evidenciar o que há de errado nas relações sociais e espirituais, não porque sejamos em essência patológicas, mas porque um estado moral e espiritual patológico se instalou em nós, e se chama Pecado. Por essa razão, em nossa época, responsabilidade se tem confundido com o ser bitolado; liberdade é confundida com libertinagem; disciplina, com freios à natureza; e autoridade é repressão.

Os mandamentos falam do Criador, do repouso merecido pelo ser humano, que é um maquinismo psicossomático-espiritual. Falam de respeito aos pais, aos mais velhos, e às tradições e ensinos passados de geração a geração; falam da vida humana, da propriedade, da instituição do matrimônio, da verdade, e da personalidade humana e do respeito devido a cada faceta da existência.

Há quem não goste do tom negativo da maioria dos mandamentos. Essa ênfase, porém, não significa uma atitude negativa quanto à vida. Quem advoga uma sociedade sem proibições precisa se recordar que em moral, como na matemática, há operações exatas: há menos e há mais; há adições e subtrações! Por isso, eu creio nos mandamentos!

AS IMPORTANTES VERDADES

Os estatutos na vida de hoje têm sido flagrantemente desobedecidos. O Decálogo, porém, é um padrão de referência moral, e dele ressalta um profundo senso ético: a ética divina para o ser humano. Importantes verdades são declaradas:

A verdade de Deus: Deus é. Assim, os mandamentos são abertos com a declaração "Eu Sou" (Ex 20.2a), e o hebreu confessará, como o faz com santa propriedade, "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor", ou, O Senhor é nosso Deus , o Senhor é um" (Dt 6.4). Deus Se comunica com a pessoa humana; dá diretrizes para o viver com aplicações no templo, no lar, na loja, no tribunal, na vizinhança. Por essa razão, os mandamentos dizem não, para que eu possa dizer sim à vontade de Deus. Isso quer dizer que para o israelita, Deus tanto era o Senhor da História ("Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" Ex 20.2), quanto o Senhor do quotidiano ("Não matarás"; "Não adulterarás", etc.). Não é o Deus das especulações; mas o Deus Vivo (cf. Sl 14.1). Por isso, creio nos mandamentos!

O Decálogo fala sobre o culto, pois que a dignidade do culto, a glória, a manifestação e a presença são a dimensão vertical de Deus. Porque Deus é Único, surge o culto, e deve Ele ser cultuado do modo digno e correto.

Os mandamentos falam em exclusividade. Na Idade Antiga, quando alguém se mudava para outra região ou país, adotava o deus daquele país ou região. Se Filístia, Dagon; entre os cananeus, Baal; Marduque na Babilônia; Kemosh entre os moabitas. Assim se explica Rute dizendo a Noeme, sua sogra: "o teu Deus será o meu Deus" (Rt 1.16b); Rute era moabita.

O que o Decálogo ensina é que quando alguém tem o Eterno como Deus, há exclusividade, quebrantamento e entrega; numa palavra: Consagração. É nesse quadro que se aplica a palavra de Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mt 6.24), que é a versão do primeiro mandamento no evangelho, ou, como Jesus, ainda, enfatiza, repetindo Deuteronômio 6.5, "Amarás ao senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento" (Mt 22.37, 38).

A ética anda meio trôpega. Tem desaparecido do coração de muita gente o sentido do que é correto (cf. Is 59.14, 15). É o desejo de enriquecer rapidamente; são as aplicações fraudulentas à custa da ingenuidade ou ignorância do povo; a remessa de lucros ou de ganhos escusos para contas anônimas no estrangeiro. É a falta de ética, de moral, de honestidade, bastando para resolver a fórmula preconizada pelo jurista Capistrano de Abreu no início do século: "deveriam ser abolidas todas as leis no nosso país, e ser decretada uma só: que todo brasileiro tivesse vergonha!"(negrito nosso).

É o ídolo do sucesso; o ídolo da raça. São vítimas dessa idolatria os indianos na Inglaterra, os turcos na Alemanha, os judeus que sofrem dos palestinos, os palestinos que sofrem dos judeus, brasileiros "da gema" em outras regiões do próprio país, índios em vários países (inclusive no nosso). É o ídolo da nação; o ídolo do partido.

É o uso e abuso do próximo: o seu direito de descanso não respeitado, nem por ele mesmo; é o desrespeito e abuso de confiança do adultério; e a vida humana tratada com desprezo nos crimes mais hediondos, mesquinhos, infames e impunes.

LIÇÕES ETERNAS

Temos muito o que aprender com os Dez Mandamentos. Sobre a vontade de Deus: a eleição de um povo, e padrões mais elevados para esse povo escolhido, e que isso se aplica à Igreja de Jesus Cristo, expressão concreta da vontade salvadora de Deus, e sem cor sectária na afirmação de Pedro:

"Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real; a nação santa, o povo adquirido,

para que anuncieis as grandezas daquele vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois povo de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado" (1Pe 2.9,10).

Temos que aprender sobre o vigor, a grandeza e o exclusivismo do culto ao Deus Vivo e Verdadeiro, pois "Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20.3; cf. Mt 6.24). Não se pode dividir o culto com outros deuses nem os atributos divinos com "deuses" menores.

Aprendemos que o culto ao Deus Vivo é sem imagens, anicônico, portanto (Ex 20.4; cf. Jo 4.24). Aprendemos, outrossim, que o Eterno não pode ser manipulado através de uma imagem Sua (Ex 20.5), como o faziam os vizinhos de Israel com seus deuses pátrios, e há quem queira favorecer santos ou ameaçá-los como o fazem com a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo numa "simpatia" para atrair casamento.

Aprendemos que o encontro com Deus é sempre decisivo, e uma decisão de vida ou de morte (Ex 20.5, 6). O mesmo se dá no evangelho: o encontro com Cristo é decisão de vida ou morte conforme João 3.36.

Aprendemos que o Nome (haShem), o Ser de Deus, é santo e não pode ser usado e citado, levianamente. "Não tomarás o nome do Senhor teu deus em vão" (Ex 20.7; Mt 5.33-36).

Aprendemos que um dia da semana é, em termos, consagrado a Deus, e isento de atividades comuns: "lembra-te do dia do repouso para o santificar" (Ex 20.8-11; Mc 2.27, 28; Mt 12.1-8) Na Aliança do Sinai, era o sétimo dia do calendário judaico apar lembrar o arremate da obra criadora; na Aliança do Calvário é o primeiro dia da semana para lembrar a ressurreição de Jesus Cristo, arremate da nova criação.

Aprendemos sobre a coerência da união Deus+ser humano, ser humano+Deus, e dos direitos divinos sobre a Sua criatura (Ex 20.1-17).

Aprendemos sobre o respeito aos pais, às antigas gerações, à vida conjugal e à verdade (Ex 20.12, 14-16; cf. Mt 15.4; Ef 6.1-3; Mt 5.27, 28; Ef 5.3, 5; 4.28; Mt 5.37; Tg 5.12).

Aprendemos a rejeitar a hostilidade e a violência, e a respeitar a propriedade alheia: "Não matarás" (Ex 20.13; cf. Mt 5.21, 22); "Não furtarás" (Ex 20.15; Ef 4.28).

Aprendemos com os profetas que a religião não se prende apenas a atos de culto, mas ao serviço, e o Decálogo visa a regular e orientar ao respeito à vida, à reverência ao Eterno, à ordem na sociedade, à justiça à pessoa humana. É possível, aliás, observar que o evangelho de Jesus Cristo reafirma tudo isso em Mateus 25.40, "sempre que o fizestes [destes de comer, de beber, acolhestes, vestistes, visitastes] a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos a mim o fizestes".

Aprendemos, sobretudo, que a vida é um encontro com Deus. Deus marca os lugares de encontro. Com Abraão, numa cidade pagã; com Jacó, num ribeiro; com Moisés, num arbusto no sopé de uma montanha; com o povo de Israel, no caminho do deserto, no tabernáculo, nos santuários, no Templo. E hoje, esse encontro acontece na alma do fiel, verdadeiro, penitente e devoto cristão, pois que seu corpo é o Seu santuário. Por isso, creio nos mandamentos!

Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA
E-Mail: wsbaptista@terra.com.br

http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/at023.htm