Jesus havia ressuscitado Lázaro havia pouco tempo. O fato estava bem
vivo na mente dos habitantes da aldeia de Betânia e Jesus, seis dias
antes da sua morte, foi novamente àquela aldeia e pessoas daquele lugar
lhe fizeram uma ceia, refeição que era servida ao cair da tarde.
Maria, Marta e Lázaro estavam presentes. Era um momento festivo em que
foram reunidos o benfeitor e os agraciados por ele. Isto fez com que
muita gente se reunisse ali para ver Jesus, o que ressuscitara, e
Lázaro, o que foi ressuscitado. Em seu Evangelho, o apóstolo João
registra que muitos dos judeus criam nele por causa da ressurreição de
Lázaro.
Dali Jesus partiu para Jerusalém, pois se aproximava a hora do seu
sacrifício. A notícia de sua ida a Jerusalém se espalhou e chegou até
lá (eram apenas seis quilômetros de distância). Muitas pessoas, então,
se prepararam para recebê-lo festivamente: pegaram ramos de palmeiras e
foram ao encontro dele, juntando-se à multidão que já o seguia, que
tinha presenciado o milagre da ressurreição, e testificava que Jesus
ressuscitara Lázaro dos mortos (v. 17). Todos voltaram e entraram em
Jerusalém aclamando-o como “o rei de Israel que vem em nome do Senhor”
(v. 13) e mais pessoas, ouvindo do milagre da ressurreição, juntou-se à
multidão.
Algumas pessoas de origem grega que tinham ido a Jerusalém por ocasião
da festa da Páscoa, quiseram ver a Jesus e procuraram alguns discípulos
dele. Os discípulos foram até Jesus levando o recado dos gregos, mas
Jesus, ao invés de mandar que fossem até ele, começou a proferir
ensinamentos a respeito da sua morte, da conquista da vida eterna e,
após se ouvir a própria voz de Deus anunciando a glorificação de
Cristo, do juízo deste mundo.
Em meio à narrativa deste episódio e dos ensinamentos de Jesus, João
registra algo muito interessante: O apóstolo escreveu que “ainda que
tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele.” As pessoas
viam Jesus, estavam com Jesus, sabiam do seu poder, experimentaram o
poder dele, mas não criam nele. Então, saber que existe, saber do
poder, testificar do poder e experimentar o poder não significa crer em
Jesus porque crer nEle exige determinados sentimentos e atitudes que
podem ser compreendidos à luz das palavras do próprio Senhor Jesus.
I. JESUS É PARA SER CRIDO COMO AQUELE QUE MORREU PARA GERAR VIDA – v.
20-24
Jesus veio ao mundo para morrer. Não para morrer de velhice, ou de
causas consideradas naturais, ou por acidente, porém morrer por sua
própria vontade que colocou em submissão à vontade do Pai. Morrer em
sacrifício vicário, substitutivo, morrer por causa dos nossos pecados.
Não por causa dos pecados dele próprio porque nunca pecou, mas por
causa de nós homens e mulheres pecadores. Ele utilizou uma figura da
natureza para simbolizar o motivo pelo qual morreria (v. 24): para que
pela sua morte muitas vidas pudessem surgir.
Saber somente que Jesus veio ao mundo, que viveu aqui, que fez muitos
milagres, que morreu na cruz, que ressuscitou e voltou aos céus, que
continua sendo o Todo-Poderoso, desfrutar do poder dEle, não significa
crer em Jesus. O que deseja crer em Jesus tem que entregar a vida a
Ele, como aquele que morreu para que pudéssemos viver eternamente. Tem
que entregar a vida a Ele reconhecendo, tendo fé, que somente pela
morte dEle uma pessoa pode nascer de novo (João 3:3) e viver
eternamente.
II. SÓ PODE CRER EM JESUS QUEM ESTÁ DISPOSTO A TROCAR A VIDA NESTE
MUNDO PELA VIDA ETERNA – v. 25
Após comparar-se com o grão de trigo que morreria para que pudesse
gerar vidas, Jesus alertou para o fato de que uma pessoa que ama a sua
vida, fatalmente há de perdê-la, e uma pessoa que aborrece, despreza a
sua vida, há de guardá-la para a vida eterna.
Com estas palavras Jesus está ensinando:
1. Que a vida que ele concede é eterna e não passageira. Ele não
entregou a sua própria vida que era eterna para produzir vida
passageira. Isto não teria lógica. Vida eterna tem que gerar vida
eterna.
2. Que o amor à vida terrena faz com que a vida eterna seja perdida.
Amor produz apego, produz dedicação. Ora, a vida que desfrutamos sem
Cristo é passageira porque fomos gerados por seres mortais, sem vida
eterna. É vida terrena. Se nos apegarmos ao que é passageiro,
deixaremos o que é eterno passar e perderemos fatalmente. Jesus Cristo
quer dar a vida eterna, morreu para isto, mas se uma pessoa quiser
desfrutar do poder de Jesus somente para este mundo, o que Ele oferece
de mais valor será perdido.
3. Que o desapego à vida terrena faz com que a vida eterna seja
resguardada. Nós nascemos para viver eternamente. A eternidade vale
muito mais que a temporalidade. Então precisamos viver neste mundo,
precisamos cuidar da nossa vida terrena, podemos desfrutar do que Deus
nos concedeu neste mundo, mas não podemos nos apegar tanto à vida
terrena a ponto de deixarmos passar a vida eterna. Não podemos deixar
Jesus passar em nossa vida sem nos entregarmos a Ele para que nos
conceda a vida eterna. Não podemos permitir que valores terrenos,
humanos, passageiros, nos impeçam de entregar a vida a Jesus Cristo
como Salvador de nossas vidas eternas.
Para nos desapegarmos da vida terrena, Jesus mostrou que é necessário
trocar as trevas pela luz (v. 35 36, 46). Jesus é a luz que veio ao
mundo e faz com que todo aquele que crê nele não permaneça nas trevas.
Isto significa que não tem Jesus está em trevas. Mas, Jesus é a luz que
tem um tempo determinado para ficar à disposição de quem quer trocar as
trevas pela luz. Ele disse que “a luz ainda está convosco por um pouco
de tempo”, significando que é necessário que a troca seja urgente.
Além desta troca, das trevas pela luz, o texto nos mostra, através de
um exemplo de comportamento, que precisamos, também, trocar a glória
dos homens pela glória de Deus (v. 42,43). Um grupo de pessoas creu em
Jesus, mas não confessaram que creram “porque amavam mais a glória dos
homens do que a glória de Deus.” Quem crê em Jesus Cristo para a vida
eterna precisa confessá-lo diante dos homens (Mateus 10.32). Aquelas
pessoas não creram de fato em Jesus porque deixaram de trocar a glória
dos homens pela glória de Deus, e a glória de Deus está em Jesus Cristo
(v. 28).
III. JESUS É PARA SER CRIDO ATRAVÉS DA PREGAÇÃO DO EVANGELHO – v. 47,48
Há uma crença de que quando se vê um milagre, crê-se mais em Jesus. Não
é verdade. Todas aquelas pessoas viram a ressurreição de Lázaro e
muitos outros milagres de Jesus, ou ouviram de quem viu os milagres e
não creram. Pelo contrário, ficaram tão incrédulas que logo depois
estavam gritando para Pilatos crucificar a Jesus.
Quem deseja crer realmente em Jesus precisa trocar a visão humana pela
pregação de Jesus, pelas palavras dele. A visão humana é distorcida
pelos interesses humanos, é impedida pela cegueira espiritual, enquanto
que as palavras de Jesus produzem a vida eterna (João 5:24).
Além disso, o julgamento do mundo terá as palavras de Jesus como
elemento de justiça. Foi ele quem disse: “quem me rejeitar a mim, e não
receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho
pregado, essa o há de julgar no último dia.”(v. 48) E foi o próprio
Senhor Jesus quem explicou o motivo de a sua pregação ser o padrão de
justiça para o julgamento final: porque o que ele pregou, o que ele
falou, foi mandado pelo Pai, pelo próprio Deus. Ou seja, as palavras de
Cristo são as palavras de Deus. E como pode uma pessoa receber a vida
eterna, para viver junto com Deus para sempre, rejeitando a sua palavra?
Concluindo, só crê de fato em Jesus aquele que o busca para ter a vida
eterna, que crê na sua morte como sendo o único meio de gerar a vida
eterna; aquele que o busca com o firme propósito de trocar a vida
terrena, passageira, pela vida eterna; quem crê nele não por
experimentar milagres, ou por ver milagres, mas por dar ouvidos às suas
palavras. E a sua palavra se resume em salvação do mundo para a
eternidade (v. 47)