Pessoas há que se acostumam com o cativeiro e gostam da condição de escravas. Insondáveis mistérios da alma humana. Os excluídos não raro preferem a escuridão das cavernas à luz da liberdade. Há os que convivem com ratos nos subterrâneos das grandes cidades. Para eles, os grilhões são necessários; a liberdade, uma utopia., algo inatingível e incompreensível.
Muitas árvores crescem sob proteção. Colocam ao seu redor uma grade de ferro ou de madeira para protegê-las das intempéries. Na verdade, a árvore fica encarcerada. Até certo estágio do seu desenvolvimento, nada contra. Depois, essa prisão, dantes necessária, passa a constrangê-la, a impedir a sua natural evolução. Seus movimentos ficam tolhidos, limitados. Em conseqüência, murcha, enfraquece e morre. A conclusão inequívoca é que a grade protetora pode ser instrumento de tortura e morte. Não podemos continuar ignorando as muitas advertências da Palavra:
“O qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica. Se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória... como não será de maior glória o ministério do Espírito? Se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça. Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece. O mesmo véu está por levantar na lição do Velho Testamento, o qual foi por Cristo abolido” (2 Co 3.6, 7, 8, 11,14).
A grade da arvorezinha era transitória. No devido tempo seria removida. Livre dessa amarra, que a fez reconhecer sua fragilidade, ela está apta a se desenvolver em plena liberdade.
“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.23-25).
Como disse, a alma humana guarda muitos mistérios. O homem é capaz de desejar um retorno à vida de servidão. O povo de Deus, guiado por Moisés no deserto, teve saudade da escravidão do Egito.
“Deus enviou seu Filho... para remir os que estavam debaixo da lei... Como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 4.4-5; 5.1).
As obras da lei, isto é, o cumprimento das exigências da lei, não são meios de justificação. A lei nos diz que somos pecadores e que não podemos cumprir todas as suas exigências. Logo, precisamos da graça.
“Pois, pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2.8). “O homem não é justificado [considerado sem culpa] pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo. Estou morto para a lei, para viver para Deus” (Gl 2.16, 19, 20). Na morte, direitos e obrigações são desfeitos. Morremos com Cristo e com ele ressuscitamos para uma nova vida. “Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (Rm 7.1-6).
O legalismo tem feito muitos escravos, incapazes de entender o evangelho da graça do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Assemelham-se à situação daquele homem que sofreu um acidente e ficou pendurado em meio à escuridão. Não atendeu à voz que lhe dizia: “Corte a corda”. Cortá-la seria cair no precipício. Segurando-a firmemente, estaria seguro. No dia seguinte, foi encontrado morto, congelado, a dois metros do chão, agarrado à corda “salvadora”.
Não temam viver segundo a Lei do Espírito e vivenciar a liberdade com que Cristo nos libertou.
26.11.2008
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