Línguas afiadas, ouvidos de bonecos - Pr. Edvar Gimenes de Oliveira


Edvar Gimenes de Oliveira
Pastor da Igreja Batista da Graça, Salvador, BA

“Na época áurea de Hollywood, duas mulheres disputavam ferrenhamente o posto de fofoqueira mais poderosa da América: Louella Parsons (1881-1972) e Hedda Hopper (1885-1966) (J.G.Couto, Carta Capital, 4.11.09 )

Famílias se dividem, igrejas perdem o brilho, partidos se repartem, pessoas ficam desempregadas, desesperadas e estigmatizadas, relacionamentos são prejudicados simplesmente pelo poder destruidor da palavra.

Não se trata, portanto, de tema de segunda categoria. É assunto que merece atenção.
Pessoas de língua afiada brotam como erva daninha em qualquer ajuntamento humano. Frustradas, com complexo de inferioridade, não imaginam que podem superar, através de caminhos saudáveis, os traumas impostos pela vida. Humilhar, acreditam, seria o antídoto para o sentimento de humilhação que carregam. Destruir a imagem alheia abafa a dor de seus abalos.

Não nos enganemos. As mais poderosas línguas afiadas não se caracterizam por falar muito. Pelo contrário, falam pouco, sem serem notadas. Não falam abertamente em grande grupo. Preferem a “boca miúda”, o “pé de ouvido”. Escolhem cuidadosamente a quem falar. Sabem como espalhar um boato, uma difamação, correndo o mínimo possível de risco de serem descobertas.

Como ventríloquos, seus maiores aliados são os ouvidos de bonecos.

Quem dá ouvido a fofocas, revigora o linguarudo. Repassando informação sem certificar-se, sem ouvir o outro lado, reage exatamente do jeito que produtor de fofocas espera. Por isso, a postura de quem dá ouvidos é tão danosa quanto à de quem tem língua afiada. Quem tem ouvidos de boneco pode ser classificado de fofoqueiro passivo.

É claro que há situações em que não há como fugir. Por uma questão de educação aguardamos o fim da “conversa”. Na esperança de não perder o relacionamento, evitamos confrontar a peçonhenta pessoa e nos retiramos.

Se, entretanto, quisermos ajudar tais pessoas, o melhor caminho é levá-las a perceberem as causas de tal postura, os sentimentos que as levam a serem intrigantes. Caso não nos sintamos preparados para isso, o melhor é não levarmos a sério o que elas dizem e, em último caso, nos afastarmos delas.

Nas igrejas, línguas afiadas e ouvidos de bonecos encontram no ativismo religioso, no conhecimento bíblico, na aparência de espiritualidade, ótimos esconderijos. Portanto, se nosso interesse é cooperar com a construção e manutenção da comunhão, prestemos atenção para não bebermos água doce de fonte salgada.
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