A Unção com Óleo na Palavra de Deus - Dinelci de Souza Lima

A UNÇÃO COM ÓLEO

Há muitos desvios praticados no pseudocristianismo da atualidade. Um deles é a unção de pessoas com óleo com os mais diversos objetivos, principalmente o de curar ou conceder algum tipo de poder espiritual.

Praticantes e defensores do costume insistem em dizer que há passagens bíblicas que ensinam unção com óleo e que há pelo menos uma (Tiago 5.14) que ensina a ungir os enfermos com óleo com a finalidade de cura milagrosa.

Nosso propósito neste breve estudo é verificar se realmente existe alguma autenticidade em tais afirmações, se há, de fato, algum respaldo bíblico para esse comportamento.

I. A ORIGEM DA UNÇÃO COM ÓLEO NO POVO DE DEUS

Em Êxodo 30.22-33 observamos que Deus estava estabelecendo as primeiras diretrizes para o seu povo que libertara do cativeiro no Egito e que colocara em uma peregrinação em direção à terra prometida. Estava estabelecendo mandamentos concernentes ao culto de um modo geral; o local onde seriam realizados os cultos e os comportamentos com respeito ao culto.

Dentre os mandamentos estava o de que fosse preparado um óleo que foi chamado de óleo sagrado da unção. Era um preparado específico que tinha uma fórmula específica ditada pelo próprio Deus a Moisés e não era, de maneira alguma, somente o óleo da oliveira ou azeite. Era, também, uma fórmula que não poderia ser copiada por ninguém sob pena de ser banido do povo de Deus.

O óleo da unção tinha objetivo definido e era o de santificar os elementos do culto, se consagrá-los completamente para Deus. Por isso, após a sua preparação, deveria ser aspergido sobre o tabernáculo, sobre os móveis, sobre o altar e sobre os sacerdotes. Tudo deveria ser santificado através da aspersão do óleo da unção. Mas havia uma proibição: o óleo da unção não poderia, de maneira nenhuma, ser aplicado sobre o corpo de alguém e somente os sacerdotes poderiam ser ungidos com o óleo.

II. O SIGNIFICADO DA UNÇÃO COM ÓLEO NO ANTIGO TESTAMENTO

Tudo no Antigo Testamento era simbólico e provisório. A caminhada pelo deserto, o tabernáculo, o altar, o animal sacrificado, os sacerdotes. Tudo figurava as realidades definitivas que seriam estabelecidas por Jesus no Novo Testamento, quando, então, envelheceria o Antigo Testamento.

A unção com óleo sagrado também era simbólica e provisória. O óleo seria preparado por Moisés, o libertador e seria derramado sobre os elementos do culto, que também era provisório e simbólico. O tabernáculo e a arca significavam a presença de Deus e o sacerdote era o mediador entre Deus e os homens, santificado para isso.

Os textos do Antigo Testamento que fazem referência à preparação e utilização do óleo sagrado da unção são muito definidos. No hebraico são utilizadas as palavras shemen (óleo), qodesh (separado para Deus, sagrado), e mishchah (consagração, unção para consagrar). A utilização dessas expressões aponta claramente para o fato de que a unção com o óleo sagrado significava que objetos, lugares e pessoas estavam sendo especialmente consagrados a Deus, separados em santificação para ele. Não existia qualquer significado de cura ou de atribuição de poder.

Só havia este significado quando a unção era realizada com o óleo preparado por Moisés de acordo com a fórmula e critérios estabelecidos por Deus. Quem se utilizasse do óleo de maneira diferente ou para ungir qualquer pessoa era banido do povo de Deus.

Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no entanto não encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras.

III. O SIGNIFICADO DA UNÇÃO COM ÓLEO NO NOVO TESTAMENTO

Existem alguns textos no Novo Testamento que fazem referência a algum tipo de unção com óleo e através da análise desses textos podemos ter uma visão do significado dessa prática no Novo Testamento.

Primeiramente precisamos observar que em quase todos estes textos a palavra grega utilizada que é traduzida por óleo é elaion que designava o óleo de oliva, ou seja, todos eles fazem referência a uma aplicação de óleo de oliva, de azeite que era utilizado para combustível de lâmpadas, para cura de doentes, para ungir a cabeça e o corpo em festas e como artigo de cozinha. Não há qualquer referência à aplicação de óleo sagrado da unção, a não ser em Hebreus 1.9 onde o escritor sacro faz referência ao Antigo Testamento, à unção do Messias, utilizando a palavra elaion juntamente com a palavra crio que era utilizada para fazer referência à unção para consagração. Em todos os outros textos a palavra que é traduzida por ungir é aleipho que era utilizada para todo tipo de aplicação de óleo sobre o corpo. Dicionaristas indicam que aleipho era a palavra secular para ungir e que chrio era a palavra sagrada ungir com a finalidade de consagração.

Depois, analisando cada texto à luz do significado da palavra elaion podemos compreendê-los e compreender o significado da utilização do azeite de oliva no Novo Testamento. Em Marcos 6.13 observamos que o azeite era aplicado para a cura dos enfermos como medicamento. É o mesmo sentido em Lucas 10.34 que faz referência ao tratamento dos ferimentos do judeu pelo bom samaritano, e é o mesmo sentido em Tiago 5.14 onde há o conselho para que o enfermo seja medicado em nome do Senhor. Em Lucas 7.46 Jesus estava repreendendo o judeu que o recebera em uma reunião festiva e não ungira a sua cabeça com azeite em sinal de amizade e boas vindas como era costume.

Quanto ao texto de Tiago 5.14 não há que se estranhar que seja ensinada a aplicação de medicamento em nome do Senhor, acompanhada de oração. No Antigo Testamento há o exemplo de cura de Ezequias, da parte de Deus, através da aplicação de medicamento que foi mandado preparar pelo profeta Isaías (2Reis 20.1-7).

Entendemos que no Novo Testamento não há a unção com óleo com a mesma finalidade que havia no Antigo Testamento. Não existe óleo da unção no Novo Testamento porque a fórmula feita por Moisés não poderia ser copiada e porque não existem os elementos de culto do Antigo Testamento no Novo Testamento. Não existe Tabernáculo, não existe altar, não existe arca, não existe sacerdote. Não existe nada disso para ser consagrado. O ungido de Deus já veio e todos os servos de Deus são consagrados através dEle. O culto não depende de lugares consagrados, nem de objetos consagrados, nem de sacerdotes. No Novo Testamento só encontramos unção com óleo com a finalidade de aplicação de medicamento.

IV. A PRÁTICA RELIGIOSA DA UNÇÃO COM ÓLEO NAS IGREJAS DE NOSSO TEMPO

Se não existe na Bíblia o chamado "óleo ungido", se não há na Bíblia a aplicação do óleo da unção para cura milagrosa ou para aquisição de poder espiritual, onde estaria, então, a base para a prática da aplicação de óleos (os mais diversos) sobre enfermos e pessoas que desejam uma melhoria espiritual em suas vidas, como tem sido tão praticado no meio chamado evangélico em nossos dias? Certamente o que não é bíblico é de origem pagã.

A Igreja Católica adquiriu práticas do paganismo romano com todo o seu misticismo. Rituais místicos de purificação foram adaptados e nessa adaptação foi criado o sacramento da crisma, palavra que tem origem no grego críein, derivada de crio, que significa ungir no sentido de consagrar para Deus como vimos anteriormente. É uma prática que tem origem no catolicismo onde ainda persistem as práticas do Antigo Testamento.

CONCLUINDO

A unção com óleo sagrado foi uma prática estabelecida por Deus, no Antigo Testamento, com a finalidade de consagração de elementos do culto que deveria ser, em tudo, santificado.

Não é uma prática que tenha continuidade no Novo Testamento considerando que o culto do Antigo Testamento foi abolido na morte de Jesus Cristo com todos os seus elementos físicos, humanos e espirituais.

O texto do Novo Testamento registra a unção com óleo como uma prática de aplicação de medicamento (o azeite de oliva era considerado um medicamento eficiente para várias enfermidades).

Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento não existe qualquer ensinamento a respeito da utilização de óleo com a finalidade de cura milagrosa ou de obtenção de algum tipo de poder espiritual.

As igrejas de Cristo que utilizam esta prática estão se assemelhando à Igreja Católica que introduziu a prática denominando-a de crisma

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