Rev. Jáder Borges
Acabei de retornar do culto de Páscoa em nossa Igreja relembrando o que ocorrera. Não tivemos pregação habitual neste dia. O que fizemos foi ler as Escrituras, e eu comentava algumas passagens com breves esclarecimentos. Assim, lemos todos e a uma só voz os capítulos 22 e 23 do evangelho de Lucas, entrecortados com os hinos da nossa histórica fé, seguidos de orações de gratidão, quebrantamento, confissão, consagração e reconhecimento por nossos pecados e pelo que o Senhor fez por nós no monte Calvário. Éramos homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças, lendo, cantando, orando e relembrando a morte do Senhor e o Seu sacrifício por nós. E como fez bem para as nossas almas e nos trouxe mais uma vez esperança e compromisso.
Em casa, não deixei de seguir pensando e de me lembrar como muitos crentes estão perdendo o foco deste dia, não considerando um grande momento para a reflexão e tristeza pelo que somos e ainda fazemos de errado, e o certo que deixamos tantas vezes de fazer.
Um de nossos erros contemporâneos tem sido o de embarcar na onda do “feriadão de Páscoa”. Decretamos também feriado para nós mesmos e estamos “aproveitando” a data para tantas coisas, tantas diversões e viagens, quando deveríamos retornar às origens das nossas convicções, que são aquelas que passaram pela Cruz e vêm daquele grande momento.
Não. A Páscoa cristã não é para que nos divirtamos, nos empanturremos de chocolate; aproveitemos o feriadão para rever parentes e amigos, e ficar dormindo até tarde do dia depois de ter ficando na internet até tarde da noite, procurando o que fosse interessante ou divertido.
Páscoa cristã é tempo de profunda e intensa revisão nas convicções, porque são elas que nos mantêm de pé e na luta, ou nós cedemos à acomodação e à frieza.
Mas, além de “aproveitar o feriado”, tem igrejas que agora estão aproveitando o momento para produzir e promover espetáculos! “Espetáculo da paixão de Cristo”, com a alegação de que com isso evangelizarão milhares de pessoas que virão para ver. Assim, lotam templos para encenar o dia da cruz, como se fosse possível encená-la. Como se o que ocorreu naquele pedaço de chão da Judéia fosse algo espetacular. Nada aconteceu de espetacular no dia em que Jesus Cristo foi levantado naquela cruz sangrenta. E mesmo assim, o evangelista Lucas nos informa que não foram poucos os que foram até o Calvário para ‘ver o espetáculo’.
“…E todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos”. (Lc 23.48)
Nova Jerusalém, Pernambuco.
Sou pernambucano e nasci bem perto de onde é encenada a “Paixão de Cristo”, na cidade de Fazenda Nova (também conhecida como “Nova Jerusalém). Meu pai era publicitário e também era amigo do idealizador daquele espetáculo. Assim, ainda menino, eu fui uma noite com ele à Fazenda Nova, pois precisava acertar detalhes da divulgação com o Sr. Plínio Pacheco. E eu fiquei por ali, com meus sete; oito anos, andando e bem impressionado com o que via. Os atores estavam ensaiando para o espetáculo e eu passei a “assistir”. Repetiram todas as palavras de Cristo e o ator que o representava, era mesmo bom na arte. Aí veio um intervalo e todos se dirigiram a algum local, foram beber água, etc. Confesso que eu tomei o maior susto: não muito distante de mim – talvez uns 3 metros – “Jesus” sentou-se; falou algo com alguém e tirou de uma bolsa um cigarro para fumar.
Os atores estavam todos ali, comentando sobre qualquer coisa, rindo, fumando e jogando conversa fora, não importando em nada se o que eles estavam fazendo era demonstração ao público do Dia da Cruz, repetindo à exaustão trechos da Bíblia e tratando com a maior das histórias. Eles não estavam nem aí. Eram atores.
Assim é com uma “Páscoa de espetáculo”. Emociona, arranca lágrimas, traz sentimentos de comiseração para com o Senhor Jesus, e não muito mais do que isso. E dessa forma, aumentam os atores: os que encenam e os que assistem.
É mais fácil emocionar do que refletir para mudar e mudar de vida, de fato. É mais fácil assistir, do que imitar a Cristo, em tudo (ver, 1 João 2.6). Na hora do negar-se a si mesmo, por exemplo, estes que são atores e encenadores de um “cristianismo de páscoa & palco”, não pregam o verdadeiro evangelho da Justificação pela fé.
O Dia da Cruz é impossível de ser repetido. Ou ele é vivido pela fé em nossos corações hoje, pela leitura da Palavra de Deus e pregação séria do evangelho, ou é espetáculo. E multidões podem sair frustradas no final de tudo, batendo no peito, mas retornando para os seus valores, princípios e atividades mundanas e bem distantes da influência e dos compromissos que estão naquele Dia da Cruz.
Na nossa Igreja lemos a seqüência do texto. E o mesmo dizia:
“Entretanto, todos os conhecidos de Jesus e as mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia permaneceram a contemplar de longe estas coisas” (Lc 23.49).
Os espectadores se foram do Calvário. Os conhecidos de Jesus ficaram. Nada de espetáculo, mas de contemplação: que dia, que morte terrível. Que sacrifício. Que Senhor amado, que deu a vida por suas ovelhas!
Assim, também cantamos um hino que dizia:
“Ao contemplar a tua cruz,
E o que sofreste ali, Senhor.
Sei que não há, ó meu Jesus,
Um bem maior que o teu amor
E o que sofreste ali, Senhor.
Sei que não há, ó meu Jesus,
Um bem maior que o teu amor
Ao contemplar a tua cruz
O teu sofrer, o teu penar,
Quão leve sinto, ó meu Jesus
A que me deste a carregar.
O teu sofrer, o teu penar,
Quão leve sinto, ó meu Jesus
A que me deste a carregar.
Tudo o que eu possa consagrar
Ao teu serviço, ao teu louvor,
Em nada poderei pagar
Ao que me dás em teu amor”
Ao teu serviço, ao teu louvor,
Em nada poderei pagar
Ao que me dás em teu amor”
Os conhecidos do Senhor ficaram e trataram de todos os preparativos para o Seu sepultamento. E foram eles, e não os espectadores de espetáculos, que participaram do glorioso Dia da Ressurreição.
Pau d’Alho, Pernambuco
Foi neste pedaço de chão, cidade pequena e à época nada empolgante de se estar em um período de Páscoa, que eu conheci o meu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Foi em um culto simples, onde cânticos foram entoados e eu que ali cheguei perdido e desesperado, sai de lá salvo, perdoado e com sentido para a vida! George Theis, missionário norte-americano, pregou sobre “Jesus ou Barrabás, a quem você segue”? E naquela noite, com lágrimas nos olhos, eu só sei que Barrabás perdeu um seguidor e que eu passei a seguir e a servir a Jesus Cristo.
Foi a leitura da santa Palavra e a pregação que me fez ver quem eu era e quem Jesus Cristo era para mim. E desde aquela noite de Sexta-Feira de Abril de 1978 eu passei a segui-Lo e a amá-Lo.
Enquanto escrevo, mais uma vez me emociona a lembrança do cântico que cantamos – agora convertidos e consagrados ao Senhor, um grupo de quase três dezenas de jovens:
“Vou servir-te porque te amo
Deste a vida para mim,
Eu nada era, até me encontrares.
Deste a vida para mim
Deste a vida para mim,
Eu nada era, até me encontrares.
Deste a vida para mim
Vidas arruinadas te levaram a morrer na Cruz,
Cristo, eu precisava,
Deste a vida a mim”.
Cristo, eu precisava,
Deste a vida a mim”.
Dia inesquecível, o Dia da cruz na Judéia.
Dia querido, o dia de hoje em nossa igreja.
Noite maravilhosa foi aquela.
Não a de Fazenda Nova, mas a de Pau d’Alho. Conheci a Cristo e isto fez toda a diferença. Não aplaudi uma bela encenação. Ganhei foi vida nova. Tive os meus pecados perdoados e vou para o Céu, por causa dEle, Jesus Cristo, o que foi crucificado.
Viver o evangelho e depois pregá-lo. Surte santos efeitos.