Guy Richard
06 de Abril de 2017 - Teologia Geral
Uma das declarações que eu me percebi repetindo com mais frequência nos últimos quinze anos de ministério é o comentário perspicaz de J.I. Packer de que meias-verdades disfarçadas de verdades inteiras são mentiras completas. A observação de Packer é um belo lembrete de que meias-verdades são apenas isso: meias-verdades. Quando são apresentadas como se não houvesse nada mais a dizer, o resultado é que a verdade é comprometida. Dizer que Jesus é cem por cento humano é verdade. Porém, é apenas metade da história. Jesus também é cem por cento divino. Se nos concentramos apenas na humanidade de Jesus e nunca dizemos nada sobre a sua divindade, somos culpados de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira, e assim contamos uma mentira completa.
Meu temor é que muitos de nós na igreja atual possam estar perigosamente perto de violar esse preceito em nossa pregação do evangelho. Não há dúvida de que o chamado do evangelho é para crer em Jesus Cristo, razão pela qual nossa pregação deve regularmente chamar as pessoas à fé. Mas se a nossa pregação parar ali, sem nunca chamar as pessoas ao arrependimento, está perigosamente perto de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira. Arrependimento e fé são inseparáveis. São dois lados de uma mesma moeda. A fé é o lado positivo de voltar-se para Cristo, e o arrependimento é o lado negativo de afastar-se do pecado. É impossível voltar-se para Cristo e voltar-se para o pecado, assim como é impossível viajar em duas direções diferentes ao mesmo tempo. Por definição, viajar para o leste significa não viajar para o oeste, e voltar-se para Cristo significa, de modo correspondente, não se voltar para o pecado. Fé e arrependimento necessariamente seguem juntos.
Podemos ver essa união inseparável entre fé e arrependimento em várias passagens da Escritura. Em Atos 2.38, por exemplo, Pedro responde aos que foram “compungidos no coração” e que perguntaram “Que faremos, irmãos?”, dizendo-lhes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados”. Pedro não lhes diz “creiam e sejam batizados”, como Paulo faz em circunstâncias praticamente idênticas com o carcereiro de Filipos em Atos 16.30-34, mas “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado”. A razão parece clara, especialmente quando comparamos Pedro e Paulo: fé e arrependimento são inseparáveis. É impossível se arrepender e não crer, e é impossível crer e não se arrepender.
Nós vemos isso novamente em Lucas 24.47, quando Jesus diz aos seus discípulos que eles deveriam proclamar um evangelho de “arrependimento para remissão de pecados”, e em Atos 3.19, quando um desses discípulos obedece às suas palavras e de fato ordena aos seus ouvintes: “Arrependei-vos... para serem cancelados os vossos pecados”. Em ambos os casos, somos novamente informados de que o chamado do evangelho não é simplesmente “creia, e você será perdoado”, mas “arrependa-se, e você será perdoado”. A razão é que fé e arrependimento andam de mãos dadas.
Marcos torna essa conexão ainda mais explícita em seu relato da vida de Cristo. Em 1.14-15, Marcos registra Jesus proclamando um evangelho que abertamente chama as pessoas a “se arrependerem e crerem”. Para Jesus, a fé e o arrependimento, obviamente, caminham juntos. O evangelho nos chama a ambos.
Isso não é negar a doutrina da justificação somente pela fé. Jesus não está acrescentando nada à fé, mas, sim, definindo como a fé realmente se evidencia. A fé que justifica não é uma fé vazia ou vaga, por assim dizer, mas uma fé que se arrepende, ou seja, uma fé que é sempre acompanhada pelo arrependimento. Certamente, é possível que a fé genuína seja impenitente por um período. O exemplo de Davi permanecendo impenitente por um tempo depois de seu pecado com Bate-Seba demonstra isso (2 Samuel 11-12). Mas um espírito impenitente não pode durar para sempre. Os cristãos podem não estar arrependidos imediatamente, mas por fim se arrependerão. Deus cuidará disso, assim como fez com Davi, porque a fé e o arrependimento necessariamente seguem juntos. Onde uma está, lá estará o outro também.
O mesmo evangelho que nos chama à fé também nos chama ao arrependimento. Se nos concentramos somente no chamado à fé, estamos nos concentrando apenas em um lado da moeda e ignorando o fato de que existe outro lado. Para traçar um paralelo com um dos ensinamentos mais conhecidos de Jesus, proclamar a fé, mas não o arrependimento, é como ensinar as pessoas a “dar, pois, a César o que é de César” sem nunca mencionar que elas também devem dar “a Deus o que é de Deus” (Mateus 22.21). Nós estamos perigosamente perto de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira e, portanto, de contar uma mentira completa.
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
Original: http://fiel.in/2nHA5Nj
Hits: 1049
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
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AutorGuy Richar
http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/1101/O_que_e_a_fe_segundo_as_Escrituras
Uma das declarações que eu me percebi repetindo com mais frequência nos últimos quinze anos de ministério é o comentário perspicaz de J.I. Packer de que meias-verdades disfarçadas de verdades inteiras são mentiras completas. A observação de Packer é um belo lembrete de que meias-verdades são apenas isso: meias-verdades. Quando são apresentadas como se não houvesse nada mais a dizer, o resultado é que a verdade é comprometida. Dizer que Jesus é cem por cento humano é verdade. Porém, é apenas metade da história. Jesus também é cem por cento divino. Se nos concentramos apenas na humanidade de Jesus e nunca dizemos nada sobre a sua divindade, somos culpados de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira, e assim contamos uma mentira completa.
Meu temor é que muitos de nós na igreja atual possam estar perigosamente perto de violar esse preceito em nossa pregação do evangelho. Não há dúvida de que o chamado do evangelho é para crer em Jesus Cristo, razão pela qual nossa pregação deve regularmente chamar as pessoas à fé. Mas se a nossa pregação parar ali, sem nunca chamar as pessoas ao arrependimento, está perigosamente perto de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira. Arrependimento e fé são inseparáveis. São dois lados de uma mesma moeda. A fé é o lado positivo de voltar-se para Cristo, e o arrependimento é o lado negativo de afastar-se do pecado. É impossível voltar-se para Cristo e voltar-se para o pecado, assim como é impossível viajar em duas direções diferentes ao mesmo tempo. Por definição, viajar para o leste significa não viajar para o oeste, e voltar-se para Cristo significa, de modo correspondente, não se voltar para o pecado. Fé e arrependimento necessariamente seguem juntos.
Podemos ver essa união inseparável entre fé e arrependimento em várias passagens da Escritura. Em Atos 2.38, por exemplo, Pedro responde aos que foram “compungidos no coração” e que perguntaram “Que faremos, irmãos?”, dizendo-lhes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados”. Pedro não lhes diz “creiam e sejam batizados”, como Paulo faz em circunstâncias praticamente idênticas com o carcereiro de Filipos em Atos 16.30-34, mas “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado”. A razão parece clara, especialmente quando comparamos Pedro e Paulo: fé e arrependimento são inseparáveis. É impossível se arrepender e não crer, e é impossível crer e não se arrepender.
Nós vemos isso novamente em Lucas 24.47, quando Jesus diz aos seus discípulos que eles deveriam proclamar um evangelho de “arrependimento para remissão de pecados”, e em Atos 3.19, quando um desses discípulos obedece às suas palavras e de fato ordena aos seus ouvintes: “Arrependei-vos... para serem cancelados os vossos pecados”. Em ambos os casos, somos novamente informados de que o chamado do evangelho não é simplesmente “creia, e você será perdoado”, mas “arrependa-se, e você será perdoado”. A razão é que fé e arrependimento andam de mãos dadas.
Marcos torna essa conexão ainda mais explícita em seu relato da vida de Cristo. Em 1.14-15, Marcos registra Jesus proclamando um evangelho que abertamente chama as pessoas a “se arrependerem e crerem”. Para Jesus, a fé e o arrependimento, obviamente, caminham juntos. O evangelho nos chama a ambos.
Isso não é negar a doutrina da justificação somente pela fé. Jesus não está acrescentando nada à fé, mas, sim, definindo como a fé realmente se evidencia. A fé que justifica não é uma fé vazia ou vaga, por assim dizer, mas uma fé que se arrepende, ou seja, uma fé que é sempre acompanhada pelo arrependimento. Certamente, é possível que a fé genuína seja impenitente por um período. O exemplo de Davi permanecendo impenitente por um tempo depois de seu pecado com Bate-Seba demonstra isso (2 Samuel 11-12). Mas um espírito impenitente não pode durar para sempre. Os cristãos podem não estar arrependidos imediatamente, mas por fim se arrependerão. Deus cuidará disso, assim como fez com Davi, porque a fé e o arrependimento necessariamente seguem juntos. Onde uma está, lá estará o outro também.
O mesmo evangelho que nos chama à fé também nos chama ao arrependimento. Se nos concentramos somente no chamado à fé, estamos nos concentrando apenas em um lado da moeda e ignorando o fato de que existe outro lado. Para traçar um paralelo com um dos ensinamentos mais conhecidos de Jesus, proclamar a fé, mas não o arrependimento, é como ensinar as pessoas a “dar, pois, a César o que é de César” sem nunca mencionar que elas também devem dar “a Deus o que é de Deus” (Mateus 22.21). Nós estamos perigosamente perto de apresentar uma meia-verdade como se fosse a verdade inteira e, portanto, de contar uma mentira completa.
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
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