lição 4 - UNI, DUNE, TÊ... SALAMÊ MINGUÊ...

STRESSBUSTERS As sete principais causas do stress. As sete afirmações do stressado. As sete respostas do Salmo 23 Causa # 4 do Stress: Momentos de (in)decisão

UNI, DUNE, TÊ... SALAMÊ MINGUÊ...

Os momentos de (in)decisão são a quarta grande causa do stress.
O estressado vive dizendo: “Eu quero fazer a vontade de Deus”.
O Salmo 23 nos ensina a dizer: “Ele me guia pelas veredas da justiça”.

“Primeiro você faz a sua decisão, e depois a sua decisão faz você”, disse Rick Warren. O que ele está querendo dizer é que cada uma de nossas decisões, não importa se decisões a respeito de questões grandes e complicadas, ou pequenas decisões no nosso dia-a-dia, corresponde a um traço que escreve a nossa biografia, ou que estabelece a nossa caricatura.

São as nossas decisões que nos lapidam, que nos moldam, oferecem o contorno do nosso estilo de vida, e principalmente o contorno do nosso caráter. É isso que significa “primeiro você faz a sua decisão, depois a sua decisão faz você”. Isto porque as nossas decisões, todas elas, têm conseqüências, e afetados pôr estas conseqüências é que vamos nos configurando, ou sendo configurados.

A grande questão é que, muito embora possamos prever, ou avaliar antecipadamente eventuais conseqüências de nossas decisões, nós não podemos afirmar categoricamente que a conseqüência para a decisão A será necessariamente B. na verdade, muita vez decidimos A esperando o resultado B, e colhemos o resultado Z.

Por esta razão os momentos de (indecisão) são estressantes. Quando temos uma decisão a tomar, avaliamos as melhores conseqüências, esperando que o passo nos leve a uma situação melhor do que a que nos encontramos. Senão o melhor seria ficarmos onde estamos, sem tomarmos a decisão, sem darmos o passo, ou “tomarmos a decisão de não tomar decisão”. Quando estamos inseguros a respeito das conseqüências de nossas decisões, então corremos atrás de descobrir a vontade de Deus, acreditando que se dermos o passo aprovado pôr Deus, cairemos na melhor conseqüência.

“Deus tem o melhor para a sua vida”, é linguagem corrente entre cristãos sinceros. E este “melhor para a sua vida” geralmente adquire para nós ares de um melhor circunstancial. Isto é, se você perdeu um emprego, é porque Deus vai dar um melhor. Se a garota não aceitou namorar você, você vai arrumar uma melhor. Se roubaram o seu carro, é porque o seguro vai pagar mais do que ele valia se você o vendesse. “Deus tem sempre o melhor para sua vida”, é sempre o melhor circunstancial, e nós queremos a vontade de Deus para cairmos neste melhor circunstancial.

Não bastasse o stress causado pela necessidade de decidir buscando a melhor das alternativas, a busca da vontade de Deus acaba sendo um segundo peso, uma vez que o processo de alinhamento entre minha opinião da melhor opção com a opinião de Deus é extremamente complicado. Esta busca de discernir a vontade de Deus acaba sendo uma grande causa de stress para muitos cristãos. Minha experiência pastoral tem mostrado que uma das áreas de grande conflito na vida cristã é essa busca de saber qual é vontade de Deus.

Pôr que é tão difícil descobrir a vontade de Deus? A maioria dos livros a respeito deste tema se propõe a ajudar você a descobrir a vontade de Deus. A pergunta que estes livros pretendem responder é: “Como descobrir a vontade de Deus?”. Mas o problema não é este, isto é, o processo de descoberta da vontade de Deus. O problema é o conceito que temos em mente a respeito da vontade de Deus que procuramos.

O salmista diz o seguinte: “Ele me guia pelas veredas da justiça pôr amor do seu nome”. Se Deus me guia, me conduz, logo Ele tem uma vontade para mim, é o raciocínio mais comum. A partir destas premissas, creio que construímos um conceito de vontade Deus completamente estranho às Escrituras Sagradas. A Bíblia tem pelo menos dois conceitos para a vontade de Deus, e nós crentes acrescentamos mais um.


CONCEITO #1 DE VONTADE DE DEUS: VONTADE SOBERANA

Quando a Bíblia fala de vontade de Deus, fala da Vontade Soberana de Deus, aquilo que Deus faz sem perguntar a ninguém se alguém deseja que Ele faça, e sem perguntar a você se você concorda com o que Ele está fazendo ou deixando de fazer. Foi com esta Vontade Soberana que Deus criou o mundo. Ele não perguntou para ninguém, simplesmente decidiu criar o mundo. Foi com esta Vontade Soberana que Ele deu o seu Filho Jesus para morrer para a remissão dos pecados (Atos 2.22), e foi movido por esta Vontade Soberana que Jesus Cristo morreu, pois Jesus mesmo disse: “A minha vida ninguém tira de mim, eu de mim mesmo a dou” (João 10).

Esta Vontade Soberana de Deus, pôr exemplo, é que explica a vocação de Jeremias, ou de Paulo apóstolo, que dizem que “antes que eu nascesse, quando eu ainda estava no ventre de minha mãe, Deus me separou para profeta, Deus me separou para apóstolo” (Jeremias 1.5; Gálatas 1.15). Deus escolheu e decidiu que Jonas pregaria em Nínive, e ponto final. Mas Jonas não quer pregar em Nínive, pega um navio para outra direção, e Deus insiste em seu plano original, atropelando o livre-arbítrio de Jonas. Isto é Vontade Soberana, a respeito da qual o homem não se pronuncia e não tem como deixar de cumprir.

A Bíblia apresenta um Deus assim, um Deus que, sendo Soberano, “tudo faz quanto lhe agrada” (Salmo 115). Um Deus que, sendo Soberano, é aquele cujos planos não podem ser frustrados (Jó 42.2). Não fosse assim, não seria Deus. Um Deus que diz: “Eu tentei fazer, mas não consegui”, não é Deus.

Pôr isso é que o Senhor diz através da boca de Jeremias “agindo eu, quem impedirá”? Deus, portanto, tem sua Vontade Soberana a respeito da sua criação, e a respeito da maneira como administra e gerencia, amorosa, misericordiosa e justamente, esta criação.


CONCEITO #2 DE VONTADE DE DEUS: VONTADE MORAL

A Vontade Moral de Deus está claramente expressa em seus mandamentos e parâmetros éticos: não matar, não roubar, falar sempre a verdade, honrar a palavra, trabalhar honestamente, e tantos outros. É através de sua Vontade Moral que Deus se expressa dizendo que devemos amar inclusive aqueles que nos perseguem, os nossos inimigos.

Quando você é ofendido, você não precisa se ajoelhar no seu quarto e dizer “Senhor, será que é a tua vontade que eu perdoe este camarada”? À vontade de Deus a respeito disso já está expressa na Escritura. “Será que é a tua vontade, Senhor, que eu me apodere discretamente desta carteira cheia de dinheiro que acabou de cair da bolsa desta senhora?” Deus já se pronunciou a respeito. Sua Vontade Moral está revelada com clareza na Escritura.

Mas, então, onde está o nosso conflito a respeito da vontade de Deus? Não é um conflito em razão da Vontade Soberana, porque esta sempre se cumpre. Você pode ficar tranqüilo, que se Deus tem uma coisa para você fazer, você não conseguiu ouvir, pegou o avião para o lado errado, alguma bomba vai explodir debaixo da sua cadeira, e você vai para o lugar que Deus quer. Por mais absurdo que seja, pode esperar que vai passar uma cegonha, recolher você nos ares e aterrissar em Nínive. Não tenha dúvida, porque a Vontade Soberana de Deus ninguém muda, nem você, nem o Diabo.

A Vontade Moral, por sua vez, não carece de grandes malabarismos para que seja identificada. Conhecer a Vontade Moral de Deus não é uma questão de interpretações subjetivas, e não depende de “confirmações no coração”. Depende de entender a Bíblia e obedecê-la, só isso.


CONCEITO #3 DE VONTADE DE DEUS: VONTADE ESPECÍFICA

O conflito de muitos cristãos sinceros em momentos de (in)decisão reside na busca da chamada Vontade Específica de Deus. A Vontade Específica, dizem, refere-se às questões não morais que compõem a variada gama de decisões que precisamos tomar na vida. Pôr exemplo, entre três opções de emprego, duas casas disponíveis para alugar, o momento certo de engravidar, a opção do vestibular. São nessas decisões que muitos cristãos sinceros tropeçam.

Na Bíblia não existe um versículo que diga “matricule-se em arquitetura”, “mude-se para Fortaleza” ou “case-se com a loirinha, e não com a moreninha”. Neste momento é que muitos cristãos sinceros se complicam e se perdem, quando estão diante de decisões não morais.

Diante de tais decisões, o que é que a maioria de nós faz? Se ajoelha no quarto e diz “Senhor, me mostra a tua vontade, devo ir ou não, Senhor? Mostra a tua vontade, mostra a tua vontade”. E fica lá ajoelhado, pedindo que Deus mostre uma coisa que, definitivamente, não existe. A Vontade Específica de Deus não existe.

Este terceiro conceito, que me ensina a buscar a Vontade Específica de Deus para que decidir em qual das três namoradas devo investir, não existe. Diante de três empregos possíveis, a pergunta sobre qual é a Vontade Específica de Deus é a pergunta errada.

As pessoas que defendem a Vontade Específica de Deus cometem cinco erros básicos em sua interpretação das Escrituras.


ERRO #1 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: CONFUNDIR VONTADE SOBERANA COM VONTADE ESPECÍFICA

Alguém perguntaria: “Não era a Vontade Específica de Deus que José fosse para o Egito?” Não! Era a Vontade Soberana de Deus. Não foi José quem ficou ajoelhado dizendo: “Senhor, qual é a tua vontade, que eu fique aqui na minha casa ou que eu vá ser escravo no Egito? Mostre para mim, Senhor, a tua vontade”. Basta que se leia a narrativa bíblica onde o próprio José interpreta sua história dizendo: “Deus me trouxe para cá. Ponto final. Vocês, meus irmãos, me venderam e me enviaram para o Egito, mas na verdade foi Deus quem me trouxe” (Gênesis 45).

A vocação profética de Jeremias, o apostolado de Paulo, e a morte de Tiago não são exemplos de Vontade Específica de Deus, mas sim de sua Vontade Soberana.


ERRO #2 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: USAR TEXTOS FORA DOS CONTEXTOS

Você não vai encontrar na Bíblia um versículo sequer que fale a respeito da Vontade Específica de Deus. Quando a Bíblia fala em vontade de Deus, a Bíblia fala em Vontade Soberana e Vontade Moral, além de falar de alguns desejos de Deus para a sua vida, que você pode inclusive descartar. Quando o apóstolo Paulo diz: “Esta é à vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tessalonicenses. Está fazendo referência a uma Vontade Moral ou um propósito de Deus que você pode frustrar.

Quando diz: “Rogo-vos que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus... e que não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”, está falando de um propósito de Deus comum a todos os cristãos.

Quando o apóstolo ora pelos cristãos para que “sejam cheios de todo o conhecimento da vontade de Deus” (Colossenses 1.9-11), ele não está falando a respeito de vontades específicas para decisões específicas em circunstâncias específicas, mas sim a respeito da compreensão a respeito de qual é o jeito que Deus quer que todos os cristãos vivam.

À vontade de Deus expressa na Bíblia, usada para defender a vontade específica, na verdade refere-se muito mais a um jeito de viver agradável a Deus do que uma decisão que precisamos tomar.


ERRO #3 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: APROVEITAR EXEMPLOS NÃO ABRANGENTES

As narrativas bíblicas que apontam para a Vontade Específica de Deus para alguém, que não considero necessariamente Vontade Específica, mas Vontade Soberana, apontam para pessoas que cumpriram papéis determinantes na história da redenção, e não se aplicam a todas as pessoas que compõem a saga bíblica.

Moisés, Noé, José, Abraão, Paulo, Davi, Pedro, Tiago, são pessoas estabelecidas pôr Deus como colunas de todo o processo da redenção e da revelação de seu propósito eterno para sua criação. Não são pessoas como nós, são pessoas das quais Deus se utiliza soberanamente, para escrever a história segundo sua Vontade Soberana. São homens e mulheres que receberam tarefas em um período especialíssimo da história humana, período este que englobou a chegada do Messias e a revelação de deus através de sua palavra eterna, a Bíblia Sagrada. Nenhuma pessoa que tenha vivido fora dos limites deste período histórico se enquadra na grandeza e especificidade do que Deus estava fazendo naqueles dias.

A história ainda estás sendo escrita, e a Igreja de Jesus continua avançando para dentro das trevas cumprindo os propósitos de Deus, mas a exclamação de Jesus na cruz do Calvário: “está consumado”, define que aqueles dias foram “a plenitude dos tempos”.


ERRO #4 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: DESCONSIDERAR O CARÁTER ABSOLUTAMENTE SOBRENATURAL DA REVELAÇÃO DA VONTADE DE DEUS

Aqueles que defendem a Vontade Específica de Deus se valem de indicativos como sinais circunstanciais, paz no coração, e até mesmo confirmações aleatórias, como por exemplo, a experiência de Gideão. Pedimos a Deus sinais: “se ele me ligar, é que é para eu ir”, “se ele não aceitar esta proposta, então sei que Deus não queria este negócio”. Quando você pergunta se a pessoa tem certeza a respeito da vontade de Deus para uma decisão específica, geralmente usam a seguinte expressão: “Eu nunca senti tanta paz como agora”.

Eu já conversei com gente que se sentia em paz na cama da amante. Paz não é critério: “Enganoso é o coração do homem”. Você vai confiar nas vozes do seu coração, nas suas vozes interiores convenientes? A “paz no coração” é um indicativo da vontade de Deus, ou apenas um alívio circunstancial?

Os critérios usados pelos personagens bíblicos não eram subjetivos. Na Bíblia, o sujeito tinha uma visão, aparecia um anjo, escutava uma voz, uma luz, ficava cego. Não é como se Paulo acordasse um dia dizendo: “Vou ser apóstolo... Tenho certeza de que esta é à vontade de Deus, pois no momento em que decidi ser apóstolo, senti uma paz maravilhosa”.

As pessoas que foram convocadas pôr Deus de maneira específica receberam a comunicação da convocação de uma maneira que nós chamaríamos de sobrenatural. Eles não tiveram dúvida de que era aquilo que Deus estava falando.

Foram experiências bem diferentes das que temos hoje. Lembro-me de ter conversado com uma senhora que me contou a maneira como decidiu casar-se. Sob pressão da família e dos amigos, tendo o apelo de um homem apaixonado, mesmo não desejando muito o relacionamento, fez um teste com Deus: “Senhor, se amanhã ele vier na escola dominical de camisa cor-de-rosa, eu saberei que é com ele que deverei me casar”. Ele foi de camisa cor-de-rosa, e eles se casaram. Graças a Deus estão casados até hoje. Essas condições que estabelecemos para Deus são muito convenientes e plausíveis.

Evidentemente, quando estamos com a consciência limpa diante de Deus, o que se explica pelo fato de estarmos em harmonia com sua Vontade Moral, experimentamos a “paz que excede todo o entendimento” (Filipenses 4.7), mas isso não significa que Deus esteja necessariamente apontando uma opção circunstancial. Significa sim, que aquela é uma opção legítima, como tantas outras também poderiam ser.


ERRO #5 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: NEGLIGENCIAR OU DISTORCER AS FIGURAS ATRAVÉS DAS QUAIS DEUS É APRESENTADO NA BÍBLIA

Deus é apresentado na Bíblia como Rei, Pai, e, no Salmo 23, como o Bom Pastor. Ora, como é que um rei administra o seu povo? O rei decide pelo povo? Não, o rei legisla para o povo, e diz ao povo que enquanto o povo está dentro dos parâmetros da legislação, ele vive em paz.

Como é que o pai educa o seu filho? Ele dá ao filho as ferramentas para que o filho aprenda a andar com suas próprias pernas, e acompanha o filho amorosamente enquanto o filho anda, mas o pai não fica decidindo pelo filho. O sujeito com 40 anos em casa e diz: “Papai, eu não sei com quem devo me casar, o que o senhor acha?” Isso evidencia uma educação de qualidade duvidosa. Pedir conselhos, ouvir pessoas mais experientes e buscar a aprovação paterna é uma coisa, mas transferir o peso da responsabilidade de decidir é outra. O processo educativo que não conduziu à autonomia, mas gerou uma dependência doentia, não encontra respaldo na Escritura.

Como é que o pastor cuida de suas ovelhas. Ele não fica com o cajado apontando a moita certa para cada ovelha, nem tampouco divide o rebanho em turnos para revezamento separando quem bebe água e quem descansa na sombra. Ele conduz as ovelhas a uma pastagem de grama verdinha, águas tranqüilas e diz às ovelhas o seguinte: “Fiquem aqui onde eu posso ver vocês, porque se vocês saírem de meu horizonte de visibilidade o lobo come vocês. Aqui nesse meu horizonte de visibilidade vocês podem decidir que moita vocês comem, se vocês dormem, bebem água, se vocês ficam em pé, deitam, ficam na sombra ou no sol. Vocês decidem. Mas desde que não saiam do meu horizonte de visibilidade”.

Ora, seria muito estranho eu lhe dar um relógio e você ficar perguntando as horas para mim, não seria? Deus nos instrumentaliza, e essas figuras bíblicas apontam para isso.


ERRO #6 DE QUEM ACREDITA EM VONTADE ESPECÍFICA: PROMOVER UMA HIERARQUIA DE DECISÕES QUE CONTRARIA O ESPÍRITO DA “VONTADE ESPECÍFICA DE DEUS”

Aqueles que buscam a Vontade Específica de Deus se ocupam apenas das macro-decisões da vida. Casamento, profissão, e passos que implicam em mudanças circunstanciais radicais.

Isso faz lembrar a história do homem que entrou no elevador e disse para o ascenssorista: “Qualquer andar serve, estou no prédio errado mesmo”. Em outras palavras, imagine se você errou ao escolher sua profissão: a Vontade Específica de Deus era que você fosse engenheiro, mas você é advogado.

Imagine que a Vontade Específica de Deus era que você tivesse estudado em São Paulo, mas você foi estudar no Rio de Janeiro. Agora, imagine que você está perguntando para Deus: “Senhor, a tua vontade é que eu assuma a assessoria jurídica daquele Banco ou que vá trabalhar com os Irmãos Brother Associados?” Agora, imagine que Deus responda: “Qualquer coisa, meu filho, você já está na profissão errada mesmo”.

Há ainda outra questão a ponderar. Por que Deus teria uma Vontade Específica apenas para quatro macro-decisões em minha vida, e não para cada passo dos meus dias? Por que razão eu deveria perguntar para Deus sua Vontade Específica a respeito de minha esposa e não a respeito do restaurante onde vou almoçar domingo? Imagine que eu morra num acidente de carro na Dutra (ou melhor, eu não, qualquer um). Imagine também que Deus explicasse para um anjo: “Foi uma pena. Minha Vontade Específica era que há esta hora ele estivesse almoçando em casa, e não a caminho deste restaurante na serra. Se ele tivesse me perguntado antes de sair de casa...”.

Situações absurdas, não? Mas perfeitamente lógicas a partir deste conceito de Vontade Específica de Deus. Em outras palavras: Vontade Específica não existe. Não existe apenas uma decisão certa aos olhos de Deus. Não existe apenas uma mulher com quem eu poderia me casara e ser feliz. Não existe apenas uma cidade onde eu poderia morar e ser feliz. Não existe apenas uma opção para meu almoço do próximo domingo. Desde que eu esteja dentro dos limites da Vontade Moral de Deus, isto é, seu “horizonte de visibilidade pastoral”, estarei vivendo de modo agradável a ele, e protegido dos lobos da vida.

Não somente os erros na interpretação bíblica e na sustentação conceitual da Vontade Específica de Deus, mas também seus resultados práticos na vida dos cristãos são funestos.


RESULTADO #1 DA CRENÇA NA VONTADE ESPECÍFICA DE DEUS: ANSIEDADE

Quando você tem até o dia 30 para fazer sua inscrição no vestibular e Deus ainda não disse qual é a faculdade que você deve escolher, os dias passam rapidamente e de repente você está com o formulário na sua frente esperando o “x” nas opções desejadas. Conclusão: você marca “x” em medicina e arquitetura, “uma vela para cada santo”.

O tempo de espera pela resposta de Deus é angustiante e implica em negociações do tipo, “espere mais uma semana, mais dois meses...”. A proposta para um novo emprego está nas mãos. Enquanto isso, você vai avaliando prós e contras, mas sua lista está empatada. Você procura a opinião de amigos e eles se contradizem. Sua esposa quer a segurança da multinacional, seu pai sugere o desafio desta pequena e promissora empresa que está embalada no mercado e oferece ganho imediato muito superior. E Deus? Deus não diz absolutamente nada... Conclusão: você fica acordado a noite, olhando pela janela as luzes dos apartamentos vizinhos se apagando aos poucos até que passa o caminhão de lixo e os passarinhos começam a fazer seu barulho matinal.


RESULTADO #2 DA CRENÇA NA VONTADE ESPECÍFICA DE DEUS: CULPA

Por que este processo gera culpa? Porque Deus não é lerdo, nem brinca de esconde-esconde. Se Deus não é lerdo, lerdo é você, que não ouviu o que Deus falou. Se Deus não esconde sua vontade, então você é incompetente para discerni-la. Sua cabeça começa a funcionar dizendo: “Eu não consegui ouvir a voz de Deus, o problema está em mim, eu não estou conseguindo entender o que Deus está me falando”.

Logo você começa a procurar pecado oculto: “Será que eu fiz alguma coisa errada e Deus está me punindo?... Será que Ele está demorando tanto porque está me disciplinando? Será que meu pecado está atrapalhando minha comunhão com deus e eu não estou conseguindo ouvir o que Ele está dizendo?”

Cada dia que passa sem que você tenha certeza da Vontade Específica de Deus, o silêncio de Deus vai sendo explicado pelas suas falhas e não pelas falhas de Deus, afinal uma pessoa tão piedosa quanto você não pode admitir que Deus esteja tendo alguma dificuldade para resolver o problema ou ainda esteja em dúvida sobre a melhor opção.


RESULTADO #3 DA CRENÇA NA VONTADE ESPECÍFICA DE DEUS: FRUSTRAÇÃO E OU DECEPÇÃO

A busca sincera da Vontade Específica de Deus é mais desastrosa quando o castelo desmorona. Pessoas que se meteram em empreitadas convictas de que estavam fazendo a Vontade específica de Deus geralmente se lamentam: “Mas eu orei tanto...”

Toda vez que o passo se justifica pela Vontade Específica de Deus, o fracasso também desaba nas costas de Deus. O resultado é frustração. Na maioria das vezes, seguida de decepção. Inclusive com Deus. A pergunta mais freqüente que ouço é: “Por que Deus fez isso comigo?” A grande tendência humana é atribuir a Deus a causa primeira de todas as circunstâncias de sua vida. Especialmente quando se trata de decisões tomadas piedosamente, sob oração sincera, e desejo de agradar a Deus.

De fato, parece grande pretensão humana afirmar que Deus está subscrevendo cada decisão que tomamos. Este conceito de Vontade Específica significa pretender que cada decisão que tomamos equivale exatamente à decisão que Deus tomaria caso estivesse em nosso lugar, o que, convenhamos, não faz sentido. Pretendemos ser como Deus? Pretendemos lavar as mãos diante do ônus de viver? Pretendemos abrir mão da mais alta dignidade que Deus conferiu ao ser humano, a saber, a oportunidade de ser ator e não apenas espectador? Preferimos o papel da marionete, em detrimento da humanidade à imagem e semelhança do Criador?


RESULTADO #4 DA CRENÇA NA VONTADE ESPECÍFICA DE DEUS: IMATURIDADE E IRRESPONSABILIDADE E OU IMATURIDADE

Minha mãe sempre disse que o “Deus dos crentes” tem “costas largas”. Sempre concordei. Cansei de ver gente se escondendo atrás dessa tal Vontade Específica de Deus: “Casei porque era da Vontade de deus. Agora estou me divorciando porque é da Vontade de Deus”... “Eles não aceitaram a proposta porque não era da Vontade de Deus”... “Seu pai morreu porque era da Vontade de Deus”. Por vezes, as afirmações mais honestas seriam “Estou me divorciando porque não fomos competentes para conduzir esta parceria ao êxito”... “Eles não aceitaram a proposta porque era ridícula e evidenciava nossa covardia...” “Seu pai morreu por causa de erro médico”.

Alguém diria: “Mas será que Deus então, não tem nada a ver com o que aconteceu?” Claro que tem, mas não necessariamente como causa primeira, não necessariamente como arquiteto da circunstância. Esta é a diferença entre Vontade Permissiva e Vontade Soberana de Deus. A Soberana é causada por Deus, a Permissiva é tolerada por Ele.

O Salmo 23 nos diz que “Deus nos guia pelas veredas da justiça”. Como é que Ele faz isso? O que devemos fazer para tomar decisões agradáveis a Deus, ao invés de buscarmos aquela “mosca do alvo” para as nossas decisões? Deus não tem uma Vontade Específica, mas sim parâmetros dentro dos quais Ele abençoa qualquer uma de nossas decisões. Creio que a Escritura nos oferece pelo menos seis conselhos para momentos de (in)decisão.


CONSELHO #1 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: PEÇA SABEDORIA PARA DEUS

Diante de uma decisão, não dê um passo antes de cair de joelhos: “Confie no Deus Eterno de todo o coração e não se apóie na sua própria inteligência. Lembre-se de Deus em tudo que você fizer, e Ele lhe mostrará o caminho certo” (Provérbios 3.5).

O cristão deve viver com sabedoria, e não apenas decidir com sabedoria. Na verdade, o sábio Salomão não está falando de Vontade Específica de Deus, mas sim de um estilo de vida que gravita plenamente ao redor de Deus: “lembre-se de Deus em tudo o que você fizer”... “Não fique pensando que você é sábio, tema o Eterno e não faça nada que seja errado” (Provérbios 3.7). Em outras palavras, não saia dos limites da Vontade Moral de Deus.

Tiago recomenda: “Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus e Ele dará, porque é generoso e dá com bondade a todos” (Tiago 1.5). Então, antes de tomar uma decisão na sua vida, joelho no chão. Não para perguntar sobre a Vontade Específica de Deus, mas para adquirir a perspectiva divina da cena. Na verdade, quem anda em temor a Deus sabe que a vida somente pode ser lida adequadamente do ponto de vista do céu.


CONSELHO #2 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: MANTENHA-SE DENTRO DOS LIMITES DA VONTADE MORAL DE DEUS

A Vontade Moral de Deus garante que você esteja dentro do “horizonte de visibilidade do Bom Pastor”. Quando você extrapola a Vontade Moral de Deus, você sai do pasto verdejante e das proximidades das águas tranqüilas. Quando você sai em busca do pasto próprio, você se torna vulnerável aos lobos.

Toda a vez que você estiver sacrificando verdades explícitas e mandamentos claros da palavra de Deus, você está no caminho errado, isto é, deixou as veredas da justiça. Em outras palavras, a Bíblia não diz com quem você deve se casar, mas oferece balizamentos suficientes para você escolher o seu cônjuge. A Bíblia não diz qual deve ser o seu próximo emprego, mas oferece informações suficientes para que você saiba qual é o jeito certo e o jeito errado de ganhar dinheiro. Então, mantenha-se dentro do horizonte de visibilidade de Deus, dentro da Vontade Moral de Deus.

Quando o acesso ao pasto verde não passa pela vereda da justiça, pode contar com ataques de lobos. E não espere a ajuda do Bom pastor até que você se dê conta de que fez besteira achando que poderia deixar Deus de fora do projeto.

Não se trata de considerar Deus vingativo ou melindroso, do tipo, “ou é do meu jeito, ou então não brinco”. A submissão não atende caprichos, evita perigos. O mapa não é resultado do capricho ou das opções preferenciais de paisagem do topógrafo, mas uma descrição dos caminhos que conduzem o viajante ao êxito de sua jornada e o registro dos limites de segurança para a viagem. Assim é a Vontade Moral de Deus: informação a respeito do caminho, ao invés de imposição sem propósito. Nesse caso, reitero, não espere chegar ao destino pela estrada errada.

A língua inglesa possui duas palavras interessantes para subscrever um documento: underwrite e undersign. A primeira confere a quem subscreve a responsabilidade de pagar a conta. A segunda, significa apenas apoio e recomendação. Nesse caso, podemos dizer que Deus subscreve qualquer decisão que tomamos dentro dos limites de sua Vontade Moral. Mas isso não significa que aquela seria a decisão que Ele mesmo tomaria caso estivesse no nosso lugar. Quer dizer que Ele assume responsabilidades ao nosso lado, e que aquela é uma das opções agradáveis a Ele.

Vale ressaltar que quem não conhece a Bíblia não sabe qual é o “limite de visibilidade de Deus”, não sabe quais são os parâmetros que demarcam o “pasto verde de Deus”. Quem anda sem Bíblia navega sem mapa.


CONSELHO #3 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: ASSUMA A RESPONSABILIDADE PELAS DECISÕES NÃO-MORAIS

Não jogue a responsabilidade pelas suas decisões não morais nas costas de Deus e nem do diabo. Assuma a responsabilidade. Paulo, apóstolo, diante de uma decisão, diz: “resolvi”. Ele não diz: “Sei que é da vontade de Deus”. Ele diz simplesmente: “Resolvi. Resolvi ficar em Éfeso até o dia de Pentecostes”. Por que? “Porque encontrei ótimas oportunidades para um grande e proveitoso trabalho, ainda que muita gente seja contra” (1 Coríntios 16.8,9).

Paulo pensa o seguinte: “Vou entrar pôr esta porta aberta. Esta oportunidade eu não posso perder”. Mas em sua outra carta à Igreja de Corinto, o apóstolo Paulo diz: “Quando cheguei em Trôade para anunciar a boa notícia a respeito de Cristo, vi que o Senhor me havia aberto o caminho para o trabalho. Mas eu estava muito preocupado porque não pude encontrar nosso irmão Tito, pôr isso me despedi deles e fui para a região da Macedônia” (2 Coríntios 2.12,13). Veja que interessante. Certa ocasião, diante de “uma porta aberta”, ele resolve entrar, mas em outra oportunidade, diante de “uma porta aberta” ele resolve seguir em frente. Considere que quando ele resolve entrar, todo mundo estava contra, e quando ele diz que não vai entrar, todo mundo estava querendo que ele entrasse.

Então, ele tinha “uma porta aberta e não entrou”, tinha outra “porta aberta e entrou”. Mas em momento algum ele diz: “Achei que era à vontade de Deus que eu entrasse. Achei que era à vontade de Deus que eu não entrasse”. A palavra usada pelo apóstolo foi: “Resolvi”.

Nesse ponto, alguém diria: “Ah, mas pode ver que ele não ficou em Trôade, e quebrou a cara”. Será? Veja o que ele mesmo diz em seguida: “Dou graças a Deus, porque em Cristo sempre nos conduz em triunfo” (2 Coríntios 2.14). Quando eu entro pela porta e quando eu não entro, eu sou vencedor nas duas, porque eu estou andando com Cristo.

Paulo, apóstolo, tinha um segredo para orientar suas decisões não morais: prioridades. No caso das “duas portas abertas”, isso fica muito claro. Sua preocupação com Tito, que traria notícias sobre a Igreja de Corinto, era prioritária em relação às oportunidades de pregar o evangelho na cidade de Trôade.

Entre iniciar um trabalho pioneiro e consolidar um trabalho executado durante três anos, Paulo escolheu a segunda opção. Por que? Teria sido movido pelo senso da Vontade Específica de Deus? Creio que não. Paulo foi movido pelo seu senso de prioridades. Prioridades em relação ao avanço de seu ministério e interesses do reino de Deus.

Deus deu uma tarefa ao apóstolo Paulo. O planejamento para a execução desta tarefa, e as opções operacionais dependiam mais de Paulo e sua dinâmica pessoal de trabalho, seu temperamento, suas prioridades e sua visão de curto, médio e longo prazos. Deus não tem planos detalhados para nós: isso seria o mesmo que acreditar em destino. Deus tem propósitos genéricos, dentro dos quais nos dá liberdade e sabedoria para tomarmos decisões. Evidentemente, Paulo decidia buscando a orientação de Deus e submisso à Vontade Soberana de Deus, mas jamais lavando as mãos e jogando cada passo nas costas da Vontade Específica de Deus.


CONSELHO #4 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: CONSULTE CONSELHEIROS SÁBIOS E FIÉIS A DEUS

A Bíblia diz que na multidão dos conselheiros há sabedoria (Provérbios 11.14). Diz também que “quem gosta de decidir sozinho é um estúpido: “aquele que não ouve conselhos insurge-se contra a sabedoria” (Provérbios 18:1). Quem se insurge contra a sabedoria é o que? É um tolo. E sabe um vício que é comum a todos nós? Pedir o conselho para a pessoa que a gente sabe que vai concordar com a gente. Quando você pede conselho para alguém que não concorda muito com sua tendência, sua desculpa é dizer: “Ele não entendeu minha situação”.

As pessoas que escolhemos ouvir antes das decisões influenciam muito as nossas intenções. Quem busca conselheiros à sua conveniência está enganando a si mesmo, até porque não é difícil o auto-engano. Quem deve, portanto, ser os nossos conselheiros? Os amigos de bar, depois do expediente, na rodada de chopp? Será este o melhor lugar para encontrar a sabedoria? Nas vizinhas mal resolvidas, nas conversas fúteis de shopping? Nas pessoas amarguradas da sua família, cujas vidas estão dando errado? São nestas pessoas que você busca conselhos? Em quem você busca conselhos?

Ovelhas do Bom Pastor não andam sozinhas. Andam na companhia do rebanho. E, muito embora possam conversar com quase todo tipo de bicho, ninguém melhor do que outras ovelhas para dar palpite no estilo de vida das outras ovelhas.


CONSELHO #5 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: ESCOLHA SEMPRE O CAMINHO DOS MELHORES FRUTOS ESPIRITUAIS

O critério para a melhor decisão não é o nosso conforto e a nossa conveniência. O reino de Deus, a nossa maturidade cristã, e o que beneficia pessoas devem estar acima da nossa conveniência, do nosso conforto, e daquilo que aparenta ser melhor para nós, ainda que circunstancialmente.

Busque primeiro o reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6.33). No momento da decisão, considere se a decisão pretendida contribui para que você conheça mais a Deus, ou apenas resolve seu problema imediato? Essa decisão está dentro dos parâmetros da palavra de Deus? O cristão deve optar pelo que resolve o seu problema e causa problema para os outros, ou manter o seu problema em favor de um testemunho bonito nos horizontes do reino de Deus?

Deus troca nosso conforto pela nossa santidade. Nossas conveniências pela nossa maturidade. Nossos interesses, pelos interesses de seu reino eterno. Sacrificou Estevão e Tiago (Atos 7 e 12). Permitiu que Paulo sofresse fortes ataques em suas viagens missionárias em direção à “mata fechada do paganismo” (2 Coríntios 11). E, inclusive, ensinou Jesus, seu Filho, a obedecer colocando-o na fornalha da aflição (Hebreus 5.8). Deus não pensa duas vezes. Entre o eterno e o efêmero, escolhe o eterno. Assim deve caminhar o cristão: mais disposto a colher frutos espirituais do que a viver confortável e convenientemente.


CONSELHO #6 PARA QUEM DESEJA ANDAR DENTRO DA VONTADE DE DEUS: DESCANSE NA VONTADE SOBERANA DE DEUS

Como já observamos, o apóstolo Paulo não ficava estático diante das alternativas, mas pesava tudo na balança das prioridades, valores, mandamentos e interesses do Reino, e em seguida dava o passo que lhe parecia mais adequado. Disse aos cristãos de Roma: “Muitas vezes quis visitá-los mas isso não me foi possível”. O apóstolo Paulo queria ir a Roma, mas não dava certo. Sua conclusão é simples: “Até agora, o Senhor me impediu, mas agora já terminei o meu trabalho nestas regiões, e como a muitos anos tenho pensado em ver vocês, espero fazer isso agora”. Ele tem planos: “Gostaria de vê-los na minha viagem para a Espanha”. Inclusive ele tem planos de médio e longo prazo. Perceba isso quando ele diz: “Gostaria também que vocês me ajudassem a ir até a Espanha, depois de eu ter o prazer de ir visitá-los pôr algum tempo” (Romanos 15.22-33).

Observe as palavras que ele usa (tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje): “gostaria”, “gostaria”, “algum tempo”. Ele fala das suas vontades, dos seus desejos, dos seus planos. Ele diz: “Acho que agora vai dar para passar em Roma”. Mas ele diz o seguinte: “eu vou passar aí a caminho da Espanha”. Mas veja o que ele diz, versículo 25: “porém agora vou a Jerusalém, a serviço do povo de Deus ali, pois os cristãos da Macedônia e da Acáia resolveram dar uma oferta para ajudar os necessitados entre o povo de Deus em Jerusalém”. Ele tem um roteiro claro: “Jerusalém, Roma e Espanha”.

Ele não fica parado, perguntando qual é a Vontade Específica de Deus. Ele faz planos, expressa desejos e vontades. Mas arremata dizendo: “Se Deus quiser” (Romanos 15.32; 1 Coríntios 16.7). na verdade, Paulo está de acordo com Tiago, quando ensina que o problema não está em fazer planos, mas em fazer planos desconsiderando que a palavra final pertence a Deus (Tiago 4.13,14; Provérbios 16.2). Em outras palavras, o problema não é que alguém diga: “Acho que vou me mudar para o interior, abrir uma padaria e ganhar a vida de maneira mais tranqüila, num ritmo mais ameno”. Mas Tiago recomenda que isso seja dito de outra maneira: “Se Deus quiser, estaremos vivos, e faremos isso ou aquilo”.

Portanto, faça seus planos, porque a Bíblia não condena quem faz planos. A Bíblia condena quem faz planos e não consulta Deus. A Bíblia condena quem faz planos e fica obcecado pelos planos que fez. A Bíblia condena quem faz planos e depois sai arrobando portas para que eles se concretizem.

Na hora da decisão, a questão é seguir um roteiro simples: Você está tranqüilo com as suas prioridades, seus valores, seus anseios? Sabe onde quer chegar? Esse alvo é compatível com os interesses e a ética do reino de Deus? Já ouviu seus conselheiros? Pediu sabedoria a Deus? Entrou em consenso com a família, com a esposa ou com o marido? As portas estão abertas? Não há necessidade de “forçar a barra” para dar o passo desejado? Se a resposta é “sim” para todas as perguntas, siga o ditado popular: “Fé em Deus, e pé na tábua”. Faça seus planos, mas não fique obcecado pelos seus planos. Coloque um “se Deus quiser a gente chega lá”.


CONCLUSÃO #1

Será possível você pedir sabedoria a Deus, manter-se dentro da Vontade Moral de Deus, assumir a responsabilidade da decisão, consultar os conselheiros fiéis, escolher aquilo que na sua consciência, diante de Deus, resulta em melhores frutos espirituais, e descansar na Vontade Soberana de Deus, e ainda assim tomar uma decisão errada?

Sim, é possível. É possível porque somos limitados em nossas percepções, limitados em nossa experiência de vida. Aquilo que eu conseguia enxergar do mundo com 21 anos de idade é muito menor do que eu consigo enxergar hoje com 34, e com certeza muito menor do que eu vou conseguir enxergar com 52. Caso eu ainda esteja vivo aos 52, aliás.

Sendo assim, com meus 21 eu fiz o melhor que pude com o que consegui enxergar. Mas nada me garante que o que consegui enxergar foi suficiente para a melhor decisão. Não estamos nem mesmo falando em rebeldia, desobediência a Deus ou qualquer atitude parecida. Estamos falando apenas de limitações em razão da maturidade para entender os conselhos, enxergar os diferentes ângulos da questão, ou avaliar adequadamente as conseqüências de cada alternativa.

Com 21 anos de idade, minha experiência era limitada, mas fiz o melhor que pude. Mas o Salmo 23 diz que “Deus nos guia pelas veredas da justiça pôr amor do seu nome”. E esta foi uma das grandes lições que aprendi na vida: “Deus se agrada mais das nossas intenções do que das nossas decisões”. Deus se agrada mais de perceber o seu coração submisso, e sinceramente desejoso de fazer a vontade dEle, sendo íntegro no que você está decidindo, orando e ouvindo seus conselheiros antes de decidir, investigando para descobrir quais são os princípios da palavra de Deus...

Sendo bem honestos, não podemos dizer que nossas decisões correspondem exatamente à melhor opção, aquela que Deus escolheria caso fosse Ele quem estivesse decidindo. Tudo quanto podemos dizer é: “Senhor, na atual circunstância, o melhor que eu consigo enxergar e entender é a alternativa B, e é nela que eu vou, descansado na tua Soberania, no teu cuidado, sabendo que o Senhor conhece o meu coração”.

Descanse, pois Deus vai olhar o seu coração, Deus não vai avaliar a sua vida se você preencheu A, ou B ou C. Não! Deus vai avaliar sua postura, sua atitude, seu coração diante dEle, e não se a decisão foi essa ou aquela. Descanse. Deus tem um compromisso com Ele mesmo em dirigir a sua vida e cuidar de você. Faça o seu melhor. E deixe o resto aos cuidados de Deus.

Creio, portanto, que devemos mudar nosso vocabulário a respeito de decisões. Não devemos dizer: “Eu tenho certeza de que esta é à vontade de Deus”, até porque, no fundo, no fundo, não temos esta certeza. Todos podemos, e eu sou o primeiro, dizer o seguinte: “Houve um dia na minha vida em que eu tive certeza que meu passo era da vontade de Deus, mas depois de alguns dias percebi que estava enganado”. Mas, podemos dizer que, dadas as circunstâncias, pelo que consigo enxergar, à luz do que compreendo da Escritura Sagrada, tendo ouvido meus conselheiros fiéis e idôneos, tendo pedido a Deus sabedoria, tentando discernir os frutos espirituais desta decisão, posso dizer que acredito que a minha decisão é uma das possíveis agradáveis a Deus.

Se você disser: “Escolhi a alternativa C”, eu não vou perguntar se você tem certeza que é esta é à vontade de Deus. Eu vou perguntar se você tem certeza que esta é uma das decisões agradáveis a Deu. Vou perguntar se você ouviu as pessoas certas ou ouviu as pessoas convenientes. Vou perguntar se você pesou a decisão à luz da Palavra de Deus. Vou perguntar se você está tranqüilo, diante de Deus, por ter feito o melhor que pode, e que Deus pode olhar para esta decisão e dizer „Ok, está dentro do meu horizonte de visibilidade, está dentro do meu caminho de justiça. Amanhã, ou depois, se der certo ou errado, você não vai jogar a culpa em Deus. Também não vai se sentir culpado e frustrado. Você vai dizer: “Fiz o melhor que pude, e confiei que Deus está me guiando pôr caminhos justos”.


CONCLUSÃO #2

Esse conceito da Vontade Soberana de Deus, e de que Deus cuida de nós, nos traz segurança. As coisas que acontecem na nossa vida, não acontecem de surpresa. Ou são buracos nos quais nós nos metemos, com decisões erradas, ou são coisas que aconteceram debaixo da Soberania de Deus. E Deus sabe o que faz. Nada aconteceu por acaso. Você pode ter certeza que mesmo aquele negócio que deu errado, Deus estava olhando, e vendo que ia dar tudo errado. Mas, por que, então, Ele não pôs a mão? Eu não faço a menor idéia. Talvez porque você não deixou. Talvez porque você não pediu para Ele por a mão. Talvez porque naquela época você nem imaginava que Ele podia pôr a mão. Mas uma coisa é certa, Deus estava olhando, aquilo não pegou Deus de surpresa. Mais do que isso, aquele negócio errado não atrapalhou o propósito de Deus para sua vida. Pode ter estendido o tempo. Pode ter trazido sofrimento maior do que o necessário. Pode ter deixado seqüelas emocionais, relacionais e sociais. Mas não impediu, nem impedirá Deus de agir em sua vida tendo em vista cumprir os propósitos dEle para você.

Este é o significado de soberania de Deus. Soberania não quer dizer que Deus põe a mão em tudo, e determina tudo o que acontece no universo. Quer dizer, sim, que nada pode impedir Deus de concretizar seus propósitos. Soberania quer dizer que não há circunstância capaz de impedir a vontade perfeita de Deus. Soberania quer dizer que nada no universo acontece sem a permissão de Deus. Quer dizer que apesar de tudo quanto acontece, Deus está no controle e pode reverter qualquer coisa para que seus propósitos se realizem.

O que você pode fazer hoje? Pode olhar para o seu passado, identificar os atalhos que você pegou e pedir que Deus traga você de volta para a “vereda da justiça”. O salmista diz: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, e vê se há em mim algum caminho mal, guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139.23,24). É mais ou menos dizer: “Senhor, eu peguei umas estradas um tanto quanto tortuosas, mas quero pedir que tua mão se estenda sobre mim, e me coloque em caminhos aplanados”. Mas, quem sabe, você esteja exatamente em um momento de decisão. É hora de pedir sabedoria ao Bom Pastor, entregar isso para Deus. Outro dia, enquanto eu compartilhava com um grupo de Pastores algumas mudanças na minha vida, um deles perguntou: “Quanto está custando estas mudanças?” Eu respondi o seguinte: “Está custando alguns sonhos que eu estou tendo que entregar para Deus, e aprender a viver com a possibilidade de que eles jamais se realizem. Está custando algumas vontades que eu tenho. Está custando descansar no tempo de Deus, na Vontade Soberana d e Deus, para que as coisas aconteçam no tempo dEle, do jeito dEle, se é que vão acontecer”. Entregar esses sonhos do coração nas mãos de Deus é um trabalho muito difícil, mas a palavra de Deus diz o seguinte: “entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e Ele tudo fará” (Salmo 37.5).