Difícil encontrar alguém em São Paulo que já não tenha passado pela amarga experiência de um assalto ou um furto. A situação é desagradável. Deixa traumas e marcas que o tempo não consegue apagar. Persiste a sensação de que sempre há alguém a segui-lo no meio da multidão. Passei por quatro experiências desagradáveis de assaltos em São Paulo.
Na primeira os larápios rasgaram o bolso das minhas calças, mas não conseguiram levar nada. Ficou o susto e até hoje evito a Rua Conselheiro Nébias. Na segunda estava parado num cruzamento da Praça Princesa Isabel aguardando a abertura do semáforo. Um menino, devia ter dez anos, encostou-se à janela do carro simulando ter uma arma debaixo da camisa. “Tio passa a grana”. Lentamente enfiei a mão no bolso e retirei a primeira nota e lhe entreguei. Saiu pulando e correndo entre os carros. “O que aconteceu?”, perguntou-me minha esposa. Acabei de ser assaltado. Não precisa dizer que ela entrou em pânico. Mas o perigo já havia passado e tranquilo segui viagem. Na terceira vez seguia pela Av. São João. Levei um soco no peito e fui a nocaute. Quanto levantei do chão descobri que não tinha dinheiro para comprar a passagem de retorno ao lar. A avenida estava apinhada, como sempre. Ninguém viu. Ninguém parou. Ninguém perguntou. Ninguém ajudou. A sensação de sentir-se só no meio da multidão é terrível. Nenhum rosto amigo. Todos dizem ao mesmo tempo, no silêncio do não comprometimento: Não é comigo. Na quarta vez fui convidado a participar, com a liderança batista, de um jantar num restaurante de luxo, próximo à Praça da República. Certo irmão seria indicado a concorrer a uma vaga na Câmara dos deputados. Queria o apoio dos líderes. Desconfiado, como sempre, de tais jantares e do pré-candidato, compareci. Cedo na vida aprendi que não “há jantares grátis”. Sempre há um preço a ser pago por alguém, às vezes caríssimo. Terminado os discursos exaltando o “santo” e o “jantar”, quase meia noite, sai para tomar o metrô. No caminho fui cercado por sujeito bem vestido. Queria dinheiro. Como neguei tentou me agarrar. Consegui me desenvencilhar e correndo cheguei à estação. Passei pela catraca sempre olhando para trás para verificar se o gajo não iria embarcar também. Maldito “jantar”. Ainda bem que o tal “irmão” não foi eleito. A liderança do Estado me deve esta.
Lidar e enfrentar ladrão não é nada agradável. A incerteza do que pode ocorrer é traumatizante. Creio que foram tais verdades que levaram Jesus a usar a figura do ladrão para falar da ação de Satanás na vida dos salvos. As palavras de Jesus descrevem com precisão a ação do maligno na experiência do salvo e da Igreja. “O ladrão vem somente roubar, matar e destruir”. Jo 10:10a. Por isso o ladrão age sorrateiramente. Sobe pela cerca. Pula o muro. Arromba a porta. Usa chave falsa. Aproveita o descuido da vítima e pratica o delito. É assim que Satanás age.
Não creio e não aceito as possessões malignas, propaladas pelos exorcistas modernos. Mas creio na ação continuada, às vezes, silente do Diabo na vida das pessoas, inclusive dos salvos. O inimigo entra silencioso na vida do casal. Estimula o ciúme e gera a oportunidade para o adultério. Mais um lar destruído pelo divórcio. Uma família desestruturada e muitas vidas a chorar as mazelas que o ladrão da felicidade conjugal inoculou inclusive nos lares que experimentaram a Graça da salvação. São salvos, mas não vigiaram e o Diabo os tragou.
O Diabo é aficionado por Igreja. É o seu campo de ação predileto. A Igreja começa num ponto de pregação, às vezes debaixo de uma árvore. Pessoas são alcançadas com a Graça salvadora de Cristo. O pequenino grupo cresce. Sacrifica-se e compra um terreno no melhor local da Cidade. Com ofertas de amor, sacrifícios e mutirões o templo é erguido. Os cultos são alegres, embora não tenha instrumentos. Todos são irmãos e vivem como irmãos. O Diabo chega. Às vezes vem por carta de transferência de outra localidade. Em algumas situações “converte-se e é batizado” na própria Igreja. Parece salvo, mas não é. Como o objetivo do ladrão (Satanás) é destruir a Igreja, inicia-se a demolição. O agir do ladrão para conseguir seu objetivo deletério é diversificado. O ladrão usa qualquer um que sirva aos seus projetos. É o diácono que passa a crer que sem ele a Igreja não sobrevive. É o irmão que terminou um curso de “especialização” numa Faculdade não presencial. Curso que nada tem a ver com Igreja e vida eclesiástica. Munido do “currículo” especial passa a agredir o Pastor porque este não leva em consideração os conhecimentos da ovelha. Do crítico que passa a crer que todas as mensagens são direcionadas a ele. Do irmão que carrega o complexo de inferioridade, e não foi cumprimentado pelo outro na feira, motivo que o leva ao ódio. Do formando em advocacia, numa Faculdade de final de semana, que passa a crer que o seu saber jurídico suplanta os dos melhores profissionais do Direito, e por isso induz a Igreja a resolver todas as picuinhas dos seus membros nos tribunais humanos, quebrando a recomendação bíblica. Dos fofoqueiros de plantão somados aos que vivem de ouvir novidades da vida alheia. Os que não aceitam o jeito de ser dos jovens. Os que admitem que todos os que passaram dos quarenta são ultrapassados e devem ser conduzidos ao museu do esquecimento. Dos velhos que não admitem o som dos jovens. Somam-se a isso uma série infinda de outros quesitos insignificantes. Tudo nas mãos do ladrão (Satanás) e o estrago está consumado. Satanás usa tudo para impedir o avanço do Evangelho e a conversão dos pecadores. Ao final ele consegue uma Igreja que odeia em vez de amar. Que vive de mágoas em lugar de exaltar a Graça de Cristo.
Ladrão (Satanás) se apresenta bem vestido; na figura de um menino que simula uma arma, ou até mesmo desferindo socos mortais, sempre objetivando: matar e destruir. Não permita que Satanás o use como destruidor da harmonia da Igreja do Senhor. Toda vigilância há que ser desenvolvida para que a vida abundante trazida por Jesus seja real na experiência de todos os salvos. É bom lembrar que o Diabo é ladrão pé de chinelo. Perigoso, mas vencido pelo sacrifício de Cristo na Cruz.