lição 3 - DÓI DEMAIS

STRESSBUSTERS As sete principais causas do stress. As sete afirmações do stressado. As sete respostas do Salmo 23 Causa # 3 do Stress: Feridas Emocionais

DÓI DEMAIS

As feridas emocionais são a terceira grande causa do stress. O estressado vive dizendo: “Eu não agüento mais”. O Salmo 23 nos ensina a dizer: “Ele refrigera a minha alma”.

A expressão “alma” na boca do Rei Davi equivale ao “homem interior” da pena do apóstolo Paulo. Na cultura judaica, quando o poeta diz: “Bendize, ó minha alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Salmo 103.1), a estrutura chamada paralelismo, indica que “alma” é o mesmo que “tudo o que há em mim”. Alma, na cultura na cosmovisão judaica, não é uma expressão que diz respeito apenas à mente, vontade e emoções, mas sim à completude do nosso ser essencial.

Todos nós precisamos periodicamente de restaurações nesse “homem interior”. O lixo emocional, psíquico, e às vezes até espiritual, se acumula sobre nós, e recebe nomes, como frustração, mágoa, desânimo, desespero, cansaço, carência, medo, depressão e culpa.

Jesus promete “vida em abundância”, isto é, “vida completa”, em todas as dimensões, e não apenas “vida espiritual”. Mesmo porque, a vida espiritual implica em conexão com Deus, e a conexão com Deus afeta o ser humano por inteiro. A “salvação” em Cristo não é apenas espiritual, pois não poderíamos chamar de salvação algo que afetasse o ser humano apenas pela metade.

Assim, o Salmo 23 está em perfeita sintonia com a mensagem de Jesus que trata o humano como ser integral. Aliás, alguém já disse que “corpo sem alma é defunto, e alma sem corpo é fantasma”. Deus não se relaciona com defuntos nem com fantasmas, mas com gente completa, e atua para que o ser humano seja completamente saudável. A salvação em Cristo reconstrói as pessoas integralmente. Veja pelo menos três ações de Deus que nos possibilitam experimentar a “vida em abundância”, isto é, vida completa, prometida por Jesus.


AÇÃO # 1 DE DEUS: DEUS REMOVE NOSSA CULPA

Pecado é qualquer ação (ou omissão) e atitude que contraria o padrão da imagem de Deus segundo a qual o ser humano foi criado. Em outras palavras, toda vez que o ser humano faz ou deixa de fazer, pensa ou assume uma postura oposta ao caráter de Deus, ele comete pecado. Nesse caso, uma vez que o pecado vai contra a essência humana criada à imagem e semelhança de Deus, ele se constitui em instrumento de dano. O pecado faz o ser humano ser menos humano e viver abaixo do padrão de qualidade de vida desejado por Deus. Guardadas as devidas proporções, toda vez que eu uso uma chave de fenda para bater prego, contrariando sua natureza essencial, eu danifico e conseqüentemente diminuo a qualidade de vida da chave de fenda.

Muita gente pensa que os efeitos do pecado são apenas a tristeza ou a ira de Deus. Entretanto, a tristeza e a ira de Deus em relação ao pecado, não se justifica pelo melindre de Deus, mas pelo fato de que o pecado causa danos ao ser humano. E não apenas danos psíquicos, emocionais e espirituais. O pecado adoece o homem por inteiro. O mesmo Rei Davi que escreveu o Salmo 23, escreveu o salmo 38, onde conta que o seu pecado trouxe abalo ao seu corpo físico: “Não há parte sã na minha carne”. Davi pecou, e o seu pecado o deixou doente. Digamos que Davi somatizou alguma coisa, isto é, transferiu para seu corpo físico um peso que carregava na alma. Que peso era este? O peso da culpa pelo seu pecado.

No Salmo 51 Davi faz referência ao seu adultério com Bate-Seba, dizendo: “O meu pecado está sempre diante de mim”. Em outras palavras: “Eu deito e sonho com aquilo, eu me percebo, durante o dia, em devaneios, e aquelas imagens voltando à minha mente. E toda a vez que eu me atrevo a me aproximar de Deus, parece que alguma coisa traz ao meu coração, à minha mente, à minha memória, que eu não tenho condições para me aproximar de Deus”.

A Bíblia diz que Deus colocou dentro de nós uma lâmpada que ilumina o nosso mundo interior, e enxergamos todas as sujeiras (Provérbios 20.27). Essa lâmpada chama-se consciência.

A consciência é como aquela luz vermelha que indica algo errado com a máquina, ainda que máquina esteja funcionando aparentemente muito bem. A consciência, portanto, é responsável por indicar que alguma coisa feriu o padrão divino impresso em nosso “homem interior” nos causando danos e abalando nosso relacionamento com Deus.

Note que o que causa dano ao pecador não é apenas o seu pecado, mas também a sua culpa, a consciência de pecado. Acontece que existem dois tipos de culpa: a culpa falsa e a culpa verdadeira. A culpa falsa é remanescente de pecado perdoado. O dano causado pelo pecado em si - usar a chave de fenda para bater prego - é sanado com o perdão de Deus. E o perdão de Deus é uma experiência instantânea. A palavra de Deus diz que quando nós confessamos os nossos pecados, “Deus é fiel e justo para nos perdoar o pecado e nos purificar de toda a injustiça” (1 João 1.9). E quando Deus nos perdoa de um pecado, diz a palavra de Deus, que desse pecado Ele não se lembra mais (Miquéias 7.18,19).

Mas nós nos lembramos. Esse é o problema. E o Diabo faz questão de fazer com que não nos esqueçamos. E esse lembrar-se do pecado é que chamamos de consciência culpada. É esse lembrar-se do pecado que fere. O pecado, uma vez perdoado, permanece na memória sob a forma de culpa. Esta culpa pelo pecado perdoado é uma “culpa falsa”, pois trata-se de uma culpa em razão de um pecado que já não está mais na contabilidade do céu, já não existe mais uma nota de dívida que Deus deveria executar.

Mas, como é que tentamos nos livrar da culpa? Sabemos que tem gente que tenta negar o pecado: “O que eu fiz não é pecado. Isso aí é cultura dos crentes, eles interpretam mal, não é pecado”. Também tem gente que tenta minimizar o pecado: “É pecado, mas também, não é assim um pecadão, não vai causar esse estrago todo, e de vez em não tem problema”.

Há os que tentam justificar o pecado: “Eu pequei, mas na minha situação você faria o mesmo”. Finalmente, há os que tentam transferir o pecado: “Eu pequei, mas se você tivesse a mulher que eu tenho, também pecaria”. “Eu pequei, mas se você tivesse o marido que eu tenho você também ia pecar... A culpa não é minha, é da minha mulher”.

Nenhum destes mecanismos é suficiente para nos livrar da culpa. Somente Deus pode resolver esse nosso problema: “o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7). Eu queria chamar sua atenção que esse “todo o pecado” envolve pecado passado, presente e futuro. Quais foram seus pecados perdoados pôr Jesus na cruz do Calvário? Somente os pecados que você cometeu até hoje? E os pecados que você “cometeu” mês que vem, como serão cancelados na contabilidade do céu?

Jesus morreu pôr todos os nossos pecados. A Bíblia diz que antigamente estávamos espiritualmente mortos. Por que? Pôr causa dos nossos pecados. Mas agora, Deus nos ressuscitou, isto é, Deus nos deu vida. E como foi que Deus nos deu vida? Junto com Cristo. E o que Deus fez para nos dar essa vida junto com Cristo? Ele perdoou todos os nossos pecados e cancelou a conta da dívida que havia contra nós e que, pela lei, éramos obrigados a pagar. Ele acabou com esta conta pregando-a na cruz. De fato, na cruz Cristo tirou o poder dos nossos acusadores, sejam seres espirituais, ou mesmo nossas consciências (Romanos 8.31-33; Efésios 2.1-8; Colossenses 2. 13-15).

A Bíblia diz que todos nós tínhamos uma nota promissória, uma nota promissória que registrava uma dívida que tínhamos em função do nosso pecado. Na mão de quem estava esta nota promissória? De Deus ou do Diabo? A resposta depende de outra pergunta: quando pecamos, ofendemos a quem, a Deus ou ao Diabo? A Deus, evidentemente, pois ferimos não apenas o padrão divino impresso em nosso „homem interior”, como também a justiça de Deus revelada e compartilhada conosco.

O pecado é uma transgressão do padrão de Deus, de modo que quem tem alguma coisa a nos cobrar pelo nosso pecado não é o Diabo, mas Deus. Registre-se, portanto, que Deus nunca deveu satisfações ao inferno. Deus nunca deveu nada ao Diabo. O sangue de Jesus não foi para que Jesus nos comprasse de volta das mãos do Diabo. O sangue de Jesus foi para satisfazer a justiça de Deus, pois a nota promissória estava nas mãos de Deus, e estava lá porque nós havíamos transgredido seu padrão divino.

Quando Jesus me lavou com seu sangue, Deus rasgou todas as minhas dívidas e cravou cada pedacinho das notas rasgadas na cruz. Estas notas promissórias, entretanto, parecem ter sido feitas em duas vias. Cada nota tem duas cópias. Uma cópia que fica guardada no meu arquivo da alma, e a outra que fica arquivada na contabilidade do céu. Através do sangue de Jesus, Deus rasgou todas, absolutamente todas as notas promissórias que me faziam devedor no céu. Com isso, Deus resolveu o problema da minha “culpa verdadeira”.


Mas acontece que eu esqueci de rasgar algumas notas que estavam no meu arquivo da alma. Estas notas têm alguma valor? Não. Podes ser cobradas pôr Deus? Não. Mas quando você deixa a conta paga na gaveta da alma, toda vez que abre a gaveta e vê a nota, aquela sensação de dívida volta. E o Diabo faz questão de abrir a gaveta sozinho. Enquanto você está jantando tranqüilamente, ele vai lá, abre a gaveta, pega a notinha que não vale mais nada e coloca do lado do telefone.

De vez em quando, o Diabo fabrica nota falsa. Ele tem “demônios falsários”, especializados em plantar culpa falsa na sua cabeça e no seu coração. Tudo quanto precisamos fazer, depois de pedir perdão a Deus, é abrir o arquivo da alma e rasgar todas as notas. As notas verdadeiras foram rasgadas no céu e cravadas na cruz de Cristo, e as notas falsas nem merecem ser consideradas.

A Bíblia chama este ato de rasgar notas de confissão: “Se confessarmos os nossos pecados Deus é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (1 João 1.9). Confessar é homologar, ratificar, confirmar o verídico de Deus a nosso respeito.

Quando Deus diz que eu sou ladrão, então eu homologo e digo que sou mesmo. Quando Deus diz que sou mentiroso, eu digo que sou mesmo. Mas além de homologar meu pecado, expresso meu desejo de reverter o quadro, revelo minha tristeza por ter ferido seu caráter santo e causado danos.

Mas a cobrança da nota promissória não é a única coisa que Deus tem a dizer sobre o nosso pecado. Deus diz: “Você pecou”, e então eu digo: “Pequei”. Mas Deus continua: “Mas o sangue de Jesus, meu Filho, te lavou”, e então eu digo: “Lavou”. Isto é, confissão, não é confessar apenas o pecado, mas confessar aquilo que Deus tem a dizer para nós a respeito do nosso pecado e a respeito do seu perdão para o nosso pecado. Isso é confissão.

Parece que alguns de nós confessam pela metade: “Senhor, me perdoa porque eu roubei”. Aí acaba a oração. E não raciocina, não se apropria neste arquivo da alma, que registra a confissão e o perdão.


AÇÃO # 2 DE DEUS: DEUS CURA A NOSSA AMARGURA

A culpa é resultado daquilo que nós fazemos, mas a amargura é resultado do que outras pessoas fazem contra nós. É impossível atravessarmos a vida sem que pessoas pisem em nós. Não quero ser mais contundente do que isso, mas sugiro que você sublinhe isso: é impossível. A prova é que todos já fomos pisados.

Caso você ainda não tenha sido pisado, o que eu duvido, prepare-se, porque alguém vem para pisar daqui a pouquinho. Não é praga. Não é profecia. Não adianta amarrar. Voluntária ou involuntariamente, direta ou indiretamente, somos pisados pôr alguém em algum momento, ou repetidas vezes.

Há um ditado que diz “Quem beija meu filho adoça minha boca”. Poderíamos acrescentar: “Quem fere meu filho me apunhala pôr dentro”. Não é isso. É ferimento indireto. Quem machuca quem eu amo, me machuca também.

A Bíblia oferece perguntas inquietantes a respeito de nossa reação às pisadas que sofremos: “Com a sua raiva você só está se ferindo. Será que, pôr você estar zangado, o mundo vai virar um deserto? Será que, pôr sua causa, as montanhas vão mudar de lugar? Será que adianta alimentar essa amargura dentro do seu peito? Isso vai mudar alguma coisa no mundo?” (Jó 18.4). A palavra de Deus responde: “A raiva não muda absolutamente nada”. Ou pior, muda. Muda a vida de quem está com raiva, E muda para pior. O que é que devemos fazer, então, com a amargura que se instala em nossos corações quando somos feridos por alguém? Devemos entregar as pessoas que nos feriram nas mãos de Deus. Note bem. A maneira bíblica de administrar ressentimentos, amarguras e mágoas, não é administrar ressentimentos, amarguras e mágoas, mas sim as pessoas que causaram tais sentimentos em nós. Paulo, apóstolo, recomenda: “Meus irmãos, nunca se vinguem de ninguém, pelo contrário, deixem que o castigo de Deus faça isso, porque as escrituras sagradas dizem „Eu me vingarei, Eu acertarei contas com eles, diz o Senhor‟” (Romanos 12.19).

Recentemente fui ferido no mais fundo da minha alma. Fiquei tão machucado que me revoltei contra a idéia de que deveria perdoar pessoas tão inescrupulosas. Minha sensação era baseada na “justiça retributiva”, na base do „bateu, levou”. Meu coração acreditava que perdoar é deixar passar em branco, sem que as pessoas que nos feriram sofram qualquer dano pelo que nos causaram.

No fundo, nossa grande dificuldade em perdoar os outros se explica na questão: “Tudo bem, eu perdôo, mas fica pôr isso mesmo”? Tudo bem, eu perdôo, mas e quanto a esse camarada que enfiou a faca até o limite da minha medula, não acontece nada com ele? Eu perdôo, e fica pôr isso mesmo”? Esse nosso senso de justiça é que nos impede muitas vezes de perdoar.

Lendo Romanos 12:19, entendi que o nosso ato de perdoar significa transferir a nota para a mão de Deus. Não significa que a nota deixará de ser cobrada. A coisa “não vai ficar por isso mesmo”. Significa dizer o seguinte: “Você me feriu, mas a nota não está mais comigo, eu te perdoei, a nota está lá em cima”. Perdoar, talvez, seja pior para o transgressor do que cobrar, porque “dura coisa é cair nas mãos de um Deus irado”. Registre-se, entretanto, que, quem perdoa desejando que Deus vingue, ainda não perdoou, apenas administrou o ódio. Quem perdoa entrega a nota nas mãos de Deus na esperança de que Deus trate o agressor com a mesma misericórdia com que nos trata quando agredimos.

Perdoar significa que eu, que fui perdoado, que tive minhas notas rasgadas na cruz, me recuso a cobrar nota de quem quer que seja. Porque o único que tem direito de cobrar nota de alguém é Deus. Deus vai cobrar a nota daqueles que me feriram, mas isso é entre Deus e o agressor, não é mais assunto meu, eu já perdoei.

Este é um conceito interessante das Escrituras: o pecado dos outros contra nós, tendo recebido nosso perdão, não passa em branco. Porque uma coisa é o nosso perdão, em que as contas são ajustadas entre nós, mas outra coisa é o pecado em si, que feriu a justiça de Deus, e que Deus vai cobrar que seja satisfeita. Quando eu perdôo quem me fere, eu deixo de exercer justiça com as minhas mãos, e entrego a justiça às mãos de Deus, o justo juiz. O que é que você prefere? Continuar numa demanda comigo, ou que eu entregue você para o céu? Pensando assim, eu acho até que eu quase preferiria que você não me perdoasse. Porque é muito melhor eu ficar debatendo contigo do que com Deus. Porque debatendo contigo eu racionalizo, eu transfiro culpa, eu argumento. Agora, quando Deus vem com a nota, em cima de mim, em cima da minha consciência, aí é impossível sobreviver.

Pôr isso é que Jesus diz o seguinte: “assim como o Pai perdoou você, você também deve perdoar o outro”. E como é que é esse exercício de perdoar? O exercício de perdoar foi ensinado por Jesus: “Se o teu irmão pecou, você vai lá e faz o que? Repreende-o”. Esta palavra “repreender” significa “trazer à luz”. É abrir o livrinho e dizer: “Fulano, tem aqui uma dívida que você contraiu para comigo, eu quero trazer à luz a sua dívida”. As pessoas precisam saber que nos feriram. As pessoas precisam saber que nos magoaram. Precisam saber que devem, porque algumas nem sabem que devem.

E quando nós vamos lá e repreendemos, trazemos à luz a dívida, isso é um bem para a própria pessoa. “Você sabia que está devendo”? “Não, não sabia”. “Pois está, mas eu não vim cobrar, eu vim te perdoar. Acerta lá em cima agora, porque pôr mim eu já rasguei”.

Repreender não quer dizer ser ríspido, dar bronca, corrigir, exigir direitos. Repreender é simplesmente trazer à luz, e mostrar que aquela pessoa tem uma questão para resolver com Deus pôr uma coisa que ela fez comigo. Isso é um bem que fazemos aos outros, além de ser absolutamente terapêutico para nós. O Senhor Jesus diz que seremos libertos da amargura, da mágoa, do ressentimento, quando nós transferirmos o perdão que recebemos de Deus aos outros, e rejeitarmos qualquer ímpeto de cobrança de uma nota que porventura esteja na nossa mão.

Você jamais será uma pessoa liberta da amargura enquanto não aceitar o perdão de Deus e oferecer o mesmo perdão aos que feriram você. Enquanto você não fizer isso, as pessoas que feriram você no passado continuarão a ferir você no presente e no futuro. Uma ferida do passado é uma faca cravada no peito. Enquanto você não perdoa, a faca continua lá. Ela foi posta dez anos atrás. Ela foi posta cinco dias atrás. Ela foi posta um mês atrás. Mas se você não perdoa, não transfere a cobrança da nota para o céu e fica com a nota na mão, a faca continua espetada no peito. A ferida aberta no passado continuará viva no presente e vai continuar enquanto a faca estiver espetada. Enquanto nós não recebemos o perdão de Deus e transferimos, não experimentamos libertação da amargura, da mágoa e do ressentimento.


AÇÃO # 3 DE DEUS: DEUS SUBSTITUI A NOSSA TRISTEZA

Fomos expulsos do paraíso e ainda não chegamos ao céu. Enquanto atravessamos esse vale entre o paraíso e o céu, somos vítimas de muitas coisas que podem nos ferir. Pôr exemplo, contingências.

Jesus conta comenta o fato de que uma torre caiu em cima de um pessoal lá em Jerusalém e matou todo mundo, salientando que os que morreram não eram piores nem melhores do que os que sobreviveram (Lucas 13). Enquanto estamos deste lado do céu, convivemos com desabamentos, maremotos, vendavais, epidemias, assaltos, atentados, e tantas outras coisas. Há coisas que nos acometem porque vivemos num “mundo intervalo” entre o paraíso e o céu.

Às vezes somos feridos pelo caos do universo. Diz a palavra de Deus que “a natureza está gemendo, aguardando a consumação da redenção” (Romanos 8.18-23). De vez em quando, nesse gemido do universo caótico, existe um lamento por causa do câncer que bateu lá em casa. De vez em quando, nesse gemido do universo caótico, há o lamento pelo um maremoto que destuiu uma cidade. Nesse gemido do universo caótico, há um sussurro que avisa que um coração humano parou de repente.

Somos feridos, também, pôr um mundo rebelde contra Deus. O mundo nos odeia, e de vez em quando este ódio fica bem diante de nós. Somos feridos pôr pessoas imperfeitas, ou más. Paulo escreve a Timóteo, dizendo que Alexandre, o latoeiro, lhe causara muitos males. “Esse tal de Alexandre é um estorvo”, disse o apóstolo Paulo a Timóteo.

Às vezes nós somos feridos pôr ataques satânicos. O Diabo se levanta contra nós com fúria. Ele está ao nosso lado, como um leão, buscando nos devorar. Não raras vezes, somos feridos pelas nossas próprias limitações. Nada nos exime de acordarmos abatidos, machucados e feridos. Algumas vezes os acontecimentos ao final de um dia nos fazem voltar para casa dilacerados no corpo e na alma. Nem sempre a vida nos trata com a delicadeza desejada, e alguns dias podem nos surpreender, deixando chegar à nossa porta crueldade da qual jamais imaginávamos nos tornar vítimas.

Isso faz parte de estarmos entre o paraíso e o céu. A palavra de Deus diz que “aqui ainda não é o lugar do nosso repouso”, e que enquanto estamos atravessando este tempo, devemos buscar o trono da graça, onde temos o Sumo Sacerdote que em tudo foi ferido como nós, em tudo foi tentado como nós, que conhece a nossa dor e a nossa fraqueza.

Quero lhe dizer uma coisa. Se algum dia você tiver uma ferida na alma, e você chegar diante de Jesus e disser o seguinte: “Jesus, eu tenho uma coisa dentro de mim, um machucado tamanho...”, e você disser para Ele o que é que lhe feriu, eu tenho certeza que Ele vai dizer assim: “Eu entendo, eu passei pôr isso”.

De vez em quando nós conversamos com uma pessoa, que diz assim: “Você não sabe o quanto dói”. E então só podemos responder assim: “Eu imagino”. Não é assim? Mas quando falamos com Jesus, Ele nos diz: “Eu sei o quanto dói, eu sei o quanto está doendo, eu passei pôr isso. Cuspiram na sua cara? Cuspiram também na minha. Traíram você? Me traíram também. A maldade do mundo desabou na sua cabeça? Desabou na minha também. O inferno veio assombrar a sua noite de sono? Também assombrou as minhas noites de sono. Enfiaram facas no seu peito, no seu coração? Enfiaram também no meu. Inclusive, me colocaram coroas de espinhos. Está com medo de morrer, meu filho? Eu também passei pôr isso. Você está passando pôr vale de sombra da morte? Eu também passei”.

Pôr isso é que o autor de Hebreus diz que Jesus pode se compadecer de nós. Ele é um Sumo Sacerdote que não está acima do bem e do mal, nessa dimensão. Ele pode empatizar com a nossa desgraça, porque Ele passou pôr tudo isso, e pode nos socorrer. Mas porque pode nos socorrer? Porque passou pôr tudo isso sem pecado. Se tivesse pecado, não poderia nos socorrer, seria um de nós. Mas passou pôr tudo isso, porém sem pecado.

Então o autor de Hebreus diz: “Vamos buscar o trono da graça para a acharmos a misericórdia e o socorro na hora da aflição, porque o nosso Sumo Sacerdote pode nos abençoar”. O texto de Isaías 61 talvez seja um dos mais belos de toda a descrição feita de Jesus: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim. Ele me ungiu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para animar os aflitos, para anunciar a libertação aos escravos e a liberdade para os que estão na prisão. Ele me enviou para anunciar que chegou o tempo em que o Deus Eterno salvará o seu povo, e chegou o dia em que o nosso Deus se vingará dos seus inimigos. O Espírito do Senhor Deus está sobre mim e Ele me enviou para consolar os que choram, para dar aos que choram em Sião uma coroa de alegria em vez de tristeza, um perfume de felicidade em vez de lágrimas, e roupas de festa em vez de luto”.

Enquanto você está sofrendo, Deus não ainda acabou o trabalho dEle com você. O trabalho dEle com você só acaba quando você pode tirar a roupa de luto e colocar a roupa de louvor, quando você pode tirar essa roupa de tristeza e colocar vestes de alegria.

Quando o rei Davi passou pôr um período de tristeza profunda, vendo o filho morrer, o que foi que ele fez? Ele caiu de joelhos, com jejum e oração, saco e cinzas. Ele se rasgou na presença de Deus, e clamou pelo socorro de Deus. Então, seu filho morreu. O que é que ele fez em seguida? Tomou um banho, trocou de roupa, penteou o cabelo, jogou um perfume, foi para o templo, chamou os levitas, esperou a banda: harpas, pandeiros, címbalos. Davi dançou e correu, dançou e correu, dançou e correu na presença de Deus. Depois, foi para casa, chamou um empregado e perguntou por Bate-Seba. Mandou que ela fosse chamada e se perfumasse especialmente para aquela noite.

Quando a situação é ruim, a gente chora. Mas quando a situação se consuma e nada mais pode ser feito (lembre-se que tem coisa na vida que não muda mais, determinadas notícias que não são revertidas nunca mais), a gente levanta, sacode a poeira e começa de novo. Enquanto a situação não se consuma, a gente clama, chora, jejua, se rasga. Mas quando a notícia já veio, a gente começa de novo.


E o que é que o rei Davi nos ensina? Ele nos diz que a retomada da vida deve ser feita por uma porta especial. Que porta é essa? É a porta do louvor. É pôr essa porta que Davi entra de novo em cena, após sacodir a poeira. Enquanto estava cara-a-cara com a morte, suplicava, intercedia e tudo o mais. Mas quando a morte chega, ele levanta, lava a cara e entra de novo para a vida pela porta do louvor. E depois, o que ele faz? Ele começa de novo. Morreu o nenê? Vamos fazer outro. E se você ler o resto da história, é isso que acontece, porque ele chama Bate-Seba, dorme com ela e lhe dá um filho, e este filho se chama Salomão.

Ele chora, ele entra de novo para a vida pela porta do louvor, e ele começa tudo de novo. Foi esse homem quem disse: “Ele refrigera a minha alma ... Eu digo a vocês que teve um dia em que a minha alma era jejum, cinza, súplica, choro, mas eu digo a vocês que quando eu passei pela porta do louvor, Ele me restaurou a alma, e restaurou tanto que eu fui lá e fiz um neném”.

O mesmo Davi nos ensina a perguntar: “Por que estás abatida, ó minh‟alma?” É uma conversa dele com ele mesmo. Ele se percebe prostrado, pára, se recolhe e diz: “Ei alma, o que está acontecendo, por que é que você está assim, o que foi que lhe aconteceu, que peso você carrega, que ferida está aberta?” E esta figura fala de uma ovelha abatida.

A ovelha abatida é tão pesada que, quando tomba não levanta mais. Tombou, não levanta mais. Quando a ovelha cai e encharca sua lã, jamais consegue levantar. Uma ovelha abatida é vulnerável a lobos. E mais do que isso, ela começa a se sufocar, sufocar. Perde o ar, esmagada pelo seu próprio peso. E se ficar ali mais um pouquinho ela morre de sufocamento, morre de estrangulamento.

As feridas da alma trazem esse sufocamento. Você já passou pôr essa experiência, de suspirar tentando encontrar o ar? Lutar contra uma pressão no seu peito, que você não sabe de onde vem, qual a razão de estar ali, mas que rouba o seu ar.

Nesse momento chega o Bom Pastor. Ele começa a fazer massagem nas pernas da ovelha. Ela esta ainda abatida, caída. Ele não se apressa em colocá-la de pé. Ele começa a massagear as pernas da ovelha para que volte a circulação. Depois ele vai virando a ovelha, vai virando, vai virando aos pouquinhos, e vai conversando com ela dizendo baixinho: “Levanta, você consegue”.

Ele vai conversando com ela como se ela entendesse, quem sabe até entendendo de fato. E ela vai se aprumando, forçando suas próprias energias, arrumando-se nas suas próprias pernas, e o Bom Pastor vai ajudando. A ovelha vai ganhando confiança novamente, não só na mão do Bom Pastor que está com ela, mas nas próprias pernas. Ela vai vendo que recuperou a força, a circulação foi ativada, o sufocamento já foi passando, porque já está numa posição mais confortável. Ela começa a respirar de novo, se fortalecer, fica em pé, e o Bom Pastor fica segurando pôr baixo da barriga da ovelha um tempo, e vai soltando bem devagarzinho, até que ela esteja firme nas suas próprias pernas.

Aí ele passa um óleo na cabeça, “unges a minha cabeça com óleo”, dá um beijinho, uma palmadinha e vai embora. É isso o que diz “Ele refrigera a minha alma”, ele me põe de pé de novo. Quem está ferido na alma não precisa de um manual de auto-ajuda, precisa é de “alto-ajuda”, ou “ajuda do alto‟, como bem diz o Alex Dias Ribeiro. Precisa do Bom Pastor.


CONCLUSÕES

Coloque o seu coração diante do Bom Pastor tratando do pecado e da culpa. Quem sabe é hora de você confessar a Deus o seu pecado real, ou é hora de rasgar nota que não tem mais valor, pecado que já foi confessado e que Deus rasgou, mas que você não rasgou?

Quem sabe é hora de você rasgar a nota de outras pessoas, que você está segurando? Quem sabe é hora de você dizer: “Deus, o meu coração está doendo demais, mas eu quero entregar a nota nas tuas mãos, eu quero transferir a cobrança para o céu, não quero mais carregar isso, eu quero transferir para quem me feriu o perdão que o Senhor já me deu”?

Quem sabe é uma hora de súplica e de ajoelhar no trono da graça, e pedir a Deus que Ele levante você que é uma ovelha que está abatida?